Conheça Breno Caetano, o brasileiro que joga no líder do Campeonato Uruguaio

Breno Caetano falou com exclusividade ao Esportes Mais. Jogador é um dos poucos brasileiros que jogam no futebol uruguaio

Nem Peñarol, nem Nacional. O líder do Campeonato Uruguaio após cinco rodadas é o Fénix. Há dez anos na primeira divisão, o Albivioleta vem de temporadas discretas e ruins. Ano passado, o time livrou-se do rebaixamento na última rodada. Porém, este fim de semana foi incomum para os torcedores deste pequeno e tradicional clube do Uruguai. Incomum e emocionante. A semana do torcedor será de curtição. Ao menos até o próximo domingo, quem olhar a tabela do uruguaio verá na ponta o Fénix.

Situado no bairro Capurro, próximo a baía de Montevidéu, o time que nunca ganhou um Campeonato Uruguaio da primeira divisão venceu no último sábado o Boston River por 3 a 1, fora de casa e dormiu na liderança. Mas a derrota do Peñarol para o Wanderers ontem à noite, garantiu o primeiro lugar isolado da competição aos Albivioletas. Com muitos atletas jovens e alguns experientes, o Fénix conta com um brasileiro no elenco: Breno Caetano.

Pela primeira vez neste ano, Breno De Souza (como é chamado pelos jornais locais) jogou como titular no time de Juan Ramón Carrasco no último sábado e não decepcionou. O brasileiro marcou o gol que selou a vitória e a liderança do Fénix. O meia de 22 anos, natural de Rio Pomba, Minas Gerais, está há sete anos no clube e falou com exclusividade ao site sobre a vida no Uruguai, o bom momento dentro de campo e as expectativas para a temporada. Confira:

 

Como você chegou ao Uruguai?

Eu tenho um amigo de nome Lucas Vidigal. O pai dele tinha um conhecido, Ricardo Estrade, que é uruguaio e à época estava morando no Brasil. Ele fez um convite para meu amigo fazer um período de testes aqui no Uruguai. Meu amigo estendeu o convite para mim e nós conversamos com meus pais para que eu viesse fazer o período de testes. Eu vim para cá em 2013, estava com 15 anos, fiz o teste e já na primeira semana o clube quis assinar comigo. Fiquei 3 anos treinando, me adaptei ao futebol uruguaio, conheci o estilo de jogo aqui e pude descobrir o país também.

Como é seu dia-dia?

É simples. Vou ao treinamento com o Matias Acuña. Ouvindo música brasileira e tomando chimarrão. Quando chego ao clube converso um pouco com o Equiper, o cara que cuida dos uniformes dos treinos. Depois tem uma resenha com os médicos, o fisioterapeuta, o auxiliar técnico que é um cara excelente, o preparador físico. Posteriormente vou para o vestiário onde os jogadores resenham muito, tem sempre uma música uruguaia também. Depois vamos treinar. Volto do treino com o Matias. Nas horas livres gosto de passear com minha esposa por Montevidéu.

Como é a estrutura do Fénix?

Comparado ao futebol brasileiro, é inferior. Somos uma equipe humilde. Mas dentro das possiblidades que o clube oferece nós jogadores procuramos nos adaptar da melhor forma para o levar a grandes patamares. Temos um complexo bem estruturado, mas não utilizamos muito. Geralmente treinamos no estádio Parque Capurro, onde jogamos as partidas oficiais. É um dos melhores campos do Uruguai.

O Fénix precisa fazer um bom campeonato para não voltar à segunda divisão após 10 anos na primeira. O time começou bem o Torneio Apertura. Como está a expectativa entre vocês? Qual é o objetivo? Não ser rebaixado, ficar entre os 8 primeiros para ir a uma competição internacional, ou mesmo brigar pelo título?

Temos um time bom. Ano passado também tínhamos, mas os resultados não vieram e brigamos até a última rodada para não cair. Mas começou um novo ano. Nossa expectativa é grande. Pensamos em não cair, mas sabemos o potencial que temos. Se nós mantermos o nível, ainda vamos dar muito o que falar no campeonato e quem sabe até brigar pelo título. Qualidade e equipe para isso nós temos.

O Fénix é o único time dos 16 da primeira divisão que repetiu a escalação nas três primeiras rodadas do Uruguaio. E nas duas últimas mudou pouco a equipe. Isso deve-se a vários fatores. Entre eles, o padrão de jogo do treinador. Qual a filosofia de trabalho de Juan Ramon Carrasco?

Sobre repetir a escalação, eu usarei aquele lema: time que está ganhando não se mexe. O Carrasco é um treinador muito bom e muito exigente. Ele tem uma ideia clara. Aqui no Uruguai ele é famoso pelo “tic tic”, porque gosta de ter a bola, de posse e bola. É um técnico bastante ofensivo.

Fale um pouco sobre a rivalidade com o Racing

É como todos os clássicos. Ninguém gosta de perder e a vitória tem um sabor especial. Começamos a semana encarando de uma maneira diferente comparado aos outros jogos. Eu tenho alguns companheiros que jogaram comigo no Fénix e hoje estão “do outro lado do muro”, como dizemos aqui.

Como foi a repercussão entre os jogadores quando Liverpool e River Plate eliminaram Bahia e Santos na Sul-Americana?

Foi grande porque por ser um país pequeno, as pessoas as vezes não valorizam os times menores como merecem. Bahia e Santos têm uma estrutura muito maior em relação aos clubes uruguaios. Mas quando os jogadores entram em campo, eles têm uma força de vontade muito grande e acabam superando a qualidade técnica inferior à dos brasileiros.

Qual é a maior dificuldade do futebol uruguaio hoje?

A parte financeira. Os clubes sofrem para manter as contas em dia.

Há muitos jogadores bons no futebol uruguaio. Bons e jovens. Leo Fernandez, Braiam Rodriguez, Braiam Ocampo, Mauro da Luz, Federico Martinez, Ignacio Ramírez, entre outros. Recentemente, o Atlético Mineiro contratou o Davi Terans e agora o Corinthians anunciou a chegada de Bruno Méndez. Você acredita que os clubes brasileiros deveriam observar com mais cuidado os jogadores uruguaios?

Sem dúvida. Aqui tem muitos jogadores de qualidade. Acredito que se os clubes brasileiros fossem mais atentos, poderiam potencializar suas equipes. Eu me surpreendo com a quantidade de jogadores de alto nível que ainda não foram embora. Mas creio que nos últimos meses os clubes brasileiros têm olhado com mais carinho para cá.

 

O futebol é incrível. Cheio de idas e vindas. Muda do dia para a noite. Aproxima como ninguém o céu do inferno. Só o futuro dirá se o Fénix de Breno Caetano fará história e será pela primeira vez campeão do Apertura e no fim do ano, campeão uruguaio. Voltar à Libertadores depois de 16 anos já seria um feito histórico. Não cair, o principal objetivo cumprido. Quem viver, verá. Sete anos se passaram. Mas a história de Breno Caetano com o Fénix tem muito capítulos a serem escritos. As páginas em branco deste livro, ele, Leonardo Fernandez, Matias Acuña e os demais companheiros vão preencher dentro de campo. 

Samuel Bonicontro

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