Crônica: ao Vélez, o desejo de um novo recomeço

Turbulência que parece não ter fim em Liniers. Vélez precisa se recuperar, mas não consegue enterrar o passado

No próximo dia 10 de agosto, começa uma nova temporada da Superliga Argentina, reformulado, o torneio terá 26 clubes e os promedios se tornam cada dia mais disputados e perigosos. Na temporada 2017/2018, o Vélez fez campanha de recuperação, de um início ruim com Omar de Felippe a remontada nas mãos de Gabriel Heinze.

O grande trunfo do ex-lateral da seleção Argentina e hoje técnico, foi a chegada do grande ídolo Mauro Zárete. Clamado e idolatrado pela torcida, Mauro voltou a sua casa após uma difícil negociação com seu clube Árabe, antes mesmo do anúncio oficial declarou: “Se o Vélez estiver passando por dificuldades, eu volto para ajudar” e então disse a frase que assombra os fortineros: “Na Argentina, eu só jogo no Vélez.”.

O clima era o melhor possível para o retorno da Superliga no início do ano, e o roteiro foi perfeito, Mauro salvou o Vélez em diversas partidas e faltando cinco rodadas para o fim do certame, a equipe de Gabriel Heinze não corria mais riscos de rebaixamento. Mauro cumpriu sua promessa e livrou o clube do coração do descenso.

No final de junho, com a temporada encerrada, os clubes buscam reforços, vendem e tentam manter seus melhores jogadores. Vélez mudou pouco, com exceção do gol, onde saíram dois goleiros e chegaram outros dois, o Vélez havia feito as trocas necessárias no meio da temporada passada, mas tinha algumas pendencias. Mauro era a principal delas, seu empréstimo com el Fortín encerrava no dia 30 de junho e seu clube árabe não queria mais empresta-lo e sim vende-lo. Então começa a corrida Fortinera em busca de recursos, o cofre se abriu em Linierns e Sérgio Rapisarda, presidente do Vélez, estava disposto a vender quem fosse para manter a estrela da companhia. O fim do contrato se aproxima e o Vélez anuncia: “Temos o dinheiro” e os jornalistas rebatem e anunciam “Mauro vai para o Boca”.

A notícia parou o mundo esportivo na Argentina por dois dias, Roly Zárete, empresário e irmão de Mauro e grande ídolo do Velez, afirma não saber de nada e é o primeiro a dizer a palavra mais ouvida nos últimos dias: “Traição!”

Mauro confirmado como novo reforço do Boca Juniors, mas faltavam explicações! Roly vai a público e diz que não sabia de nada. Rapisarda resolve tirar satisfações e solta a explicação que soa mais plausível do que simplesmente mais um caso de jogador mercenário. “Mauro foi ao Boca com a promessa de defender a seleção Argentina em 2022.” Uma bomba, se fosse no Brasil, mas nossos vizinhos têm como vice-presidente da sua federação o atual presidente do Clube Atlético Boca Juniors e não parece ser tão bombástica a notícia de promessa de seleção feita por dirigentes. Isso talvez explique alguns nomes convocados para Copa do Mundo de 2018 pela Albiceleste, mas é assunto para outra hora.

Daniel Angelici, presidente do Boca e vice-presidente da AFA (Associação Argentina de Futebol) anunciou em sua rede social o acordo com Mauro Zárete. A promessa de que na Argentina só jogaria no Vélez acabou em menos de seis meses, as semanas que sucederam o anuncio foram de extrema revolta, camisas queimadas, cartazes e anúncios com a foto do ex-ídolo arrancados e até de ameaças a Mauro e sua família.

Vélez e sua torcida velaram Mauro Zárete por tempo demais, talvez pela dor da traição de um grande ídolo ou pela surpresa que foi, mas Mauro continua sendo o principal assunto em Liniers. No meio disso tudo, o Vélez tinha o primeiro passo do torneio que considerava o mais importante da temporada, a chance de retornar a Copa Libertadores da América e principalmente de conquistar um título, a Copa Argentina e o compromisso era contra o semiamador Central Córdoba de Santiago del Estero.

O ambiente até parecia de vida nova aos torcedores do Vélez, foram em bom número até Temperley na parte sul de Buenos Aires, mas time e torcida continuavam a lembrar de Zárete. Desconcentrado, el Fortín saiu prendendo, mas arrumou um empate com sua nova jóia, Matías Vargas, a igualdade continuou e a partida foi para os pênaltis. Nazareno Bazán, de 19 anos e Lucas Robertone de 21 mandaram para fora o sonho de título para o Vélez na Copa Argentina.

De quem é a culpa? Das jovens promessas de Liniers, do professor Gabriel Heinze ou de Mauro Zárete? Ao Vélez, o desejo de um novo recomeço; e não há tempo para se lamentar, em três semanas o compromisso é contra o Newell’s Old Boys, no José Amalfitani pela estreia da Superliga Argentina.

Superliga Vélez
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Kauan de Paula

Curitibano, jornalista e designer em formação. Entusiasta de Barra Bravas e apaixonado pela cultura que cerca o futebol

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