Grande reportagem: a realidade do futebol brasileiro

 Grande reportagem: a realidade do futebol brasileiro

A realidade do futebol brasileiro: o Brasil é mesmo o país do futebol?

O Brasil é rotulado como o país do futebol. Ter conquistado cinco Copas do Mundo pode ser um dos aspectos que façam o país carregar este rótulo. Contudo, a prática do esporte e a paixão do povo brasileiro talvez expliquem melhor o significado.

Dados da Pesquisa Nacional de Domicílios (PNAD) 2015, que foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que com 15,3 milhões de adeptos o futebol é a principal modalidade esportiva praticada no Brasil.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ministério do Esporte, em 2013, o futebol foi o esporte mais praticado no país em quase todas as faixas etárias, liderando entre os 15 aos 64 anos, e perdendo apenas dos 65 a 74, onde a caminhada aparece no topo da pesquisa com 37%, e o futebol em segundo com 26%.

Ainda segundo a pesquisa, 25,6% dos brasileiros praticam esportes no país, 28,5% realizam atividade física e 45,9% são sedentários. O futebol é o primeiro esporte praticado na vida dos brasileiros em 59,8% dos casos, bem superior ao voleibol com 9,7%, segundo colocado na pesquisa.

No Brasil, tudo começou com Charles Miller, um brasileiro que após estudar na Inglaterra trouxe duas bolas de futebol ao país, em 1894, além das regras que havia aprendido no tempo que esteve na Europa. O primeiro jogo em terras brasileiras ocorreu em São Paulo, no ano de 1895, em uma partida disputada por São Paulo Railway, time que teve a participação de Miller, e uma companhia de gás, sendo formada por homens ingleses que viviam na cidade paulista.

O futebol é o esporte que mais mobiliza os brasileiros, uma verdadeira paixão nacional. Talvez pelo fato de não excluir ninguém pela classe social, já que a meia pode virar uma bola, um par de chinelos um gol e qualquer espaço se torne um campo, como resume Luiz Henrique no livro  No país do futebol: Descobrindo o Brasil. “Qualquer terreno, chão, esquina ou Viela, por mais adversa que seja sua topografia, presta-se à prática desse jogo que a tantos, mobiliza e sensibiliza”.

Porém, não é fácil manter a modalidade com boas condições dentro e fora do gramado, e isso acaba dificultando não só a vida dos atletas, que são os mais afetados, mas também da maioria dos clubes.

O esporte muitas vezes está associado a atletas e clubes de alto escalão, ostentando todo seu dinheiro, se divertindo em festas de luxo, e repassando a imagem que todo jogador de futebol vive assim. Uma ilusão, que pode fazer parte do dia a dia de grandes clubes.  Na realidade, a maioria dos atletas lida com condições precárias de trabalho, inadimplência dos clubes, má organização das federações, drama do desemprego.

E é esta realidade que será apresentada em “Grande reportagem: a realidade do futebol brasileiro”. Pretende-se mostrar tais aspectos e contribuir com a cobertura do jornalismo esportivo nessas equipes, trazendo reflexão sobre a organização da modalidade.

Já virou rotina entre os brasileiros aquela reunião entre amigos para acompanhar um jogo decisivo de domingo, a brincadeira com o companheiro de trabalho após aquele clássico emocionante que valeu vaga na final, e até a união das famílias, afinal, muitos são influenciados pelos próprios pais na hora de escolher o time do coração.

É como se ele conferisse à identidade nacional uma marca indelével, inscrevendo no corpo e na alma de milhões de brasileiros seu ritmo e sua temporalidade, sua estética, sua beleza e um determinado “sentimento diagonal” de “homem-gol”, afirma Toledo em seu livro.

Como diz Toledo (2000), é difícil imaginar hoje o Brasil sem o futebol, já que a modalidade esportiva se tornou mais do que um “simples esporte”, e sim um fenômeno cultural, mobilizando desde a várzea ou aquele grupo que bate uma bolinha aos finais de semana até o profissionalismo.

Jocimar Daolio, professor da Faculdade de Educação Física, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) , no artigo intitulado “As contradições do futebol brasileiro” apresenta uma outra linha de explicação para a popularização do futebol brasileiro seria a facilidade de prática desse esporte, quer em termos de regras, como em termos de espaço e equipamentos. De fato, as regras do futebol são de fácil compreensão em relação aos outros esportes. Sua prática pode se dar em qualquer lugar – campo, quadra, praia, terreno baldio, rua – e a bola, o único material obrigatório, pode ser representada por uma bola de meia, de plástico, uma lata, uma tampinha etc. Com uniforme completo ou não, com bola de couro ou não, em um campo demarcado ou não, todos jogam futebol.

O especialista Roberto Da Matta, autor de Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira, explica no artigo Antropologia do óbvio: notas em torno do significado social do futebol, publicado pela Revista USP. “O futebol proporciona à sociedade brasileira a experiência da igualdade e da justiça social. Pois, produzindo um espetáculo complexo, mas governado por regras simples que todos conhecem, o futebol reafirma simbolicamente que o melhor, o mais capaz e o que tem mais méritos pode efetivamente vencer.”

Guilherme Costa, em “Futebol: a paixão nacional brasileira” (2007), afirma que o futebol dura além dos 90 minutos em que é disputado em campo, já que as discussões pré-jogo se iniciam bem antes da bola rolar, e a repercussão da partida também gera debates desde as rodas de amigos em um papo informal, até os programas especializados nos meios de comunicações.

Diante de tanta importância para a sociedade, o futebol deixou de ter sua duração limitada aos 90 minutos das partidas. As discussões sobre o jogo passaram a permear todo o dia do povo, nas conversas informais e nas análises de especialistas.

Ninguém gosta de perder. Talvez esse seja o principal fato do futebol ter caído tanto nas graças do brasileiro. Por ser um esporte originalmente criado na Europa, o gingado característico do nosso país trouxe um diferencial a modalidade, e com ele vieram as conquistas.

Com a facilidade para praticar e entender o futebol, a modalidade pode reunir em uma simples “pelada” diversas classes sociais, já que a habilidade não se mede por conta bancária, mas sim por um dom de praticar dribles, compreender taticamente o que cada partida pede, e claro, os gols que levam uma equipe à glória.

Sabe-se, contudo, que realidade é um conceito amplo, que parte de questões subjetivas, depende de olhares e pontos de vistas ou angulações. O que se apresenta aqui são olhares, vivências e realidades experimentadas por grandes atletas que amam o futebol e que tem ou tiveram carreiras expressivas dentro da modalidade.

Para cumprir esta tarefa, recorre-se, metodologicamente, além a pesquisa bibliográfica e documental a procedimentos de apuração jornalística a técnicas de entrevista em profundidade, que proporcionam uma exploração do comportamento e do relato do entrevistado.

O que você verá verá aqui é parte prática do Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo, apresentado à Universidade do Sagrado Coração que se soma ao relatório de fundamentação teórica do mesmo.

Foram feitas 7 reportagens, ouvindo 12 fontes e abordando temas desde o sonho de uma criança em se tornar um atleta profissional, até a vida após o futebol, passando por todas as etapas que um atleta profissional encontra na sua jornada. Espera-se com a execução deste trabalho, através dos relatos dos personagens mostrar a realidade do futebol brasileiro.

A grande reportagem intitulada “Grande reportagem: a realidade do futebol brasileiro” busca abordar histórias de atletas profissionais que sofrem para seguir na sua profissão escolhida, e que na mídia não tem tanta visibilidade, visto que os holofotes estão nos clubes considerados grandes e nos jogadores que atuam na Europa. Buscamos relatar, por meio destes relatos dos jogadores profissionais entrevistados, desde o sonho de se tornar um jogador profissional até ao drama que muitos vivem na profissão, como a falta de pagamentos, desemprego, falta de estrutura e organização entre outros aspectos, no sentido de trazer uma visão mais pé no chão e desglamourizada do futebol.

Confira as reportagens:

Um sonho de criança

Futebol brasileiro: categorias de base, peneiras e avaliações

 

Profissão jogador de futebol: o lado oposto da fama

Fama e anonimato: vivendo as duas faces da carreira

Futebol Brasileiro: o calendário, baixos salários e desemprego

Futebol amador: renda extra e uma saída para o desemprego

A vida após o futebol

 

Wesley Contiero

Jornalista, 29 anos, natural de Lins, interior de São Paulo.

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