O Leeds United de Marcelo Bielsa
Intensidade, domínio ofensivo, jogo vertical, pressão alta, posse de bola no campo de ataque: A revolução do Leeds com Marcelo Bielsa
O tradicional Leeds United, tricampeão inglês, foi rebaixado para a segunda divisão inglesa na temporada 2003/2004, três temporadas depois, a equipe teve outro rebaixamento chegando a terceira divisão inglesa ficando 3 temporadas por lá, desde que voltou a Championship em 2010/2011, o Leeds sequer foi aos playoffs de acesso para a Premier League até que na temporada 2017/2018, o italiano Andrea Radrizzani comprou o time e decidiu abrir os cofres para colocar a equipe de volta na elite do futebol inglês. Assim, em um movimento surpreendente, o Leeds United conseguiu contratar Marcelo Bielsa como novo treinador. A missão era clara: tirar os Whites da segunda divisão.
Temporada 2018/2019
Na primeira temporada, Bielsa fez um primeiro turno brilhante, terminando em primeiro e com um futebol vistoso, mas o time se perdeu na segunda metade da temporada devido as lesões e limitações do elenco causadas pela falta de adaptação de seu treinador na liga. A equipe foi para os playoffs de acesso mas fracassou e foi eliminado na semifinal pelo Derby County.
Temporada 2019/2020
Leeds não gastou nada com contratações na janela de verão (embora houvessem alguns acordos de empréstimo), ao mesmo tempo em que perdeu Pontus Jansson, Jack Clarke, Samu Sáiz e Kemar Roofe.
Mas ter o privilégio de Marcelo Bielsa treinar o seu time não lhe dá apenas um treinador. Você ganha uma das maiores e mais influentes mentes táticas do futebol moderno.
Mesmo com as perdas em definitivo, o Leeds foi bem mais regular na temporada, Bielsa se adaptou ao campeonato e soube dosar bem elenco pra evitar um grande número de desfalques, o Leeds lidera a Championship e precisa de uma vitória nos últimos 3 jogos restantes para garantir o acesso direto para a Premier League.
Mas vamos falar de tática, o que El loco Bielsa fez para ganhar o amor da torcida dos Whites.
Qualquer pessoa com um interesse pela parte tática do futebol, provavelmente já ouviu falar do famoso esquema de Bielsa: o 3-3-1-3. Já pelo Leeds, Bielsa começa com uma formação 4-1-4-1 sem a bola, não muito diferente do que Pep Guardiola (discípulo de Bielsa) faz no Manchester City.
Na transição ofensiva – ou quando o Leeds tem a bola – essa formação muda. A alta intensidade que já virou a marca do Leeds de Bielsa: movimentações constantes e velocidade na transição defesa-ataque dos jogadores para causar uma desorganização no sistema defensivo adversário.
Em essência, o time de Bielsa em Leeds se movimenta o tempo todo, e quase nunca está parado, tentando roubar a bola de volta ou, tentando produzir uma jogada ofensiva, com um entrosamento fabuloso, em perfeita harmonia.
Isso resulta principalmente em ambos os zagueiros que jogam mais avançados e abertos e o volante recuando para jogar no meio dos zagueiros, criando uma linha de 3. No meio de campo, um meio-campista será deslocado, ficando mais próximo do atacante e o outro ficará mais no meio para ocupar a ”zona 14”, enquanto os laterais avançam para empurrar a linha defensiva adversária para trás.
Bielsa tem em seus conceitos que você deve ter um sistema de jogo fixo, não uma formação
Há uma tendência de simplificar o sistema de jogo, acreditar que a formação é a representação clara da metodologia de um treinador. Claro, esse não é o caso: um método se manifesta nas ações dos jogadores em todo o campo, reagindo a diferentes situações.
Cada jogador tem suas próprias características, suas próprias habilidades e o trabalho do treinador é reunir tudo para criar um sistema consistente que vença as partidas e tenham uma regularidade.
O Leeds da Bielsa é a personificação perfeita disso. Claro que o 3-3-1-3 está lá, mas para entender realmente o que é que Bielsa pensa, é preciso observar como seus jogaodres se encaixam em um sistema perfeitamente projetado extrair o melhor de cada um.
Acima de tudo, a intenção é movimentar a bola rapidamente: os jogadores raramente dão mais de dois toques enquanto atacam.
Entendendo o sistema
Patrick Bamford pode muito bem ser comum. Ele pode até ser irritante. Ele pode ser desleixado. Ele pode perder muitos gols. Mas ele é vital. Ele faz todo o sistema funcionar.
Há uma razão pela qual Bielsa não o largou, nem mesmo para o jogador que provavelmente se tornará o mais caro da história do Leeds quando seu empréstimo terminar e a cláusula de compra for ativada na janela de verão: Jean-Kévin Augustin. Há uma razão pela qual a Bielsa estava disposto a vender logo Kemar Roofer e há uma razão pela qual Tyler Roberts só começou quatro jogos no campeonato nesta temporada.
Bamford é o ponto de equilíbrio de Bielsa: ele é o jogador em que os defensores e os meias podem jogar a bola e, portanto, fazer com que a equipe se mova ao seu redor. Ele é forte, ocupa espaços e é perfeito pra fazer o pivô para servir seus companheiros. A estratégia comum do ataque é jogar a bola nos pés de Bamford e, em seguida, fazer com que ele faça o pivô e sirva o meia infiltrando no meio da defesa adversária.
Pablo Hernández (um dos meias centrais) também troca de posição com Bamford e com os pontas: Hélder Costa inicialmente é um ponta direita, onde ele pode cortar e trabalhar e com o pé esquerdo, mas ele também pode cair por dentro, enquanto Bamford está mais aberto.
A velocidade no ataque também é causada por Bamford que é instruído a dar passes de primeira, jogar dando apenas um toque na bola. Quando a defesa adversária está muito fechada, Bamford deixa de ser o pivô e vira o finalizador, sempre finalizando de primeira as jogadas.
Há também um entrosamento: observe o Leeds United quando tem a bola, ninguém dá mais do que dois toques, a bola está em movimento constante e tudo parece tão simples.
Se ele não fosse meio desligado, seria elogiado como um atacante moderno. Mas isso não importa, porque ele é perfeito para Bielsa. E ele trabalha em conjunto com os outros jogadores do Leeds.
Agora vamos falar de outro jogador extremamente importante no sistema de Bielsa: Luke Ayling. No entanto, é difícil determinar exatamente o que ele é.
A maioria diria que ele é um lateral direito, mas então ele está se movimentando para o meio em busca de espaço. Alguns diriam que ele é um craque, e isso é verdade, um craque inteligente, a maioria de seus passes são curtos e ”simples”, mas ele é essencial para o Leeds conseguir se livrar de marcação sob pressão.
Ayling é o que procura dar a bola o mais rápido possível para se criar ataques, e a razão pela qual o 3-1-3-3 funciona tão bem na transição ofensiva: na maioria das vezes, Ayling vai receber a bola à direita e o lateral esquerdo (Alioski ou Dallas) se movimentará de acordo com o movimento de Ayling com a bola.
Um dos ataques mais comuns do Leeds, quando Klich entra em diagonal pelo lado direito (espaço que era pra ser ocupado Ayling) para receber livre e procurar alguém para finalizar a jogada.
Também ocorre do lado esquerdo, embora Jack Harrison prefira ser um jogador mais agudo.
Nessa situação, a inteligência de Ayling em torno da área: ele marcou quatro vezes nesta temporada, quase todos vieram em suas jogadas dentro da área adversária.
O terceiro jogador importante desse sistema do Bielsa é talvez o melhor jogador do campeonato: Kalvin Phillips.
Outro jogador ”patrocinado” por Bielsa, o volante essencialmente permite que tanto o sistema defensivo quanto o sistema ofensivo funcionem. No cenário defensivo, ele fica na frente da defesa, o primeiro ‘1’ no 4-1-4-1.
Ele também costuma ser responsável pela transição que cria o 3-3-1-3: ele é a combinação perfeita de combativo e composto que lhe permite roubar e distribuir a bola, e parece estar sempre procurando um espaço a frente.
O meio de campo de Bielsa passa por Phillips sendo a base.
Quando os zagueiros avançam, Phillips recua e fica entre os zagueiros, permitindo que eles abrem e mantenham a bola sempre em movimento. E, é claro, o fato dele conseguir distribuir a bola sozinho, sua qualidade de passes longos é excelente, ele é o cara que muitas vezes coloca a bola nos pés do Bamford.
No entanto, Phillips também desempenha um papel tático único: como isca.
Não é segredo que as equipes da Bielsa podem ser incrivelmente diretas, se necessário: um passe longo pode ser tão letal quanto 15 passes curtos, mas Bielsa combateu nessa temporada as retrancas que encontrou na temporada passada usando Phillips como isca: muitas vezes ele tentará quebrar linhas defensivas com passes curtos para trás, apenas para receber a bola, resistir à pressão e lançar em direção ao Bamford (que como foi dito mais acima, é excelente em receber e preparar as jogadas para seus companheiros com no máximo dois toques na bola).
Ben White, um dos zagueiros, também é excelente nisso, mas é a mistura de disciplica tática e confiança de Phillips que o faz ser o ponto chave de toda a equipe do Leeds tanto sem a bola quanto com a bola. Ele não só recua para a linha de zagueiros quando o Leeds tem a bola como ele vai além dos outros meias para dar combate quando a equipe não tem a bola.
Phillips, Bamford e Ayling são os 3 jogadores de características únicas na equipe de Marcelo Bielsa. Eles são os líderes da Champioship e se conseguirem manter seu sistema de jogo com essa espinha dorsal, devem ir bem na Premier League da próxima temporada.