E+ Especial – Amunt Valencia: 101 anos de tradição – Parte 2

MESMO ALTERNANDO MOMENTOS DE DECEPÇÃO E DE GLÓRIA, O VALENCIA NUNCA PERDEU SEU POSTO ENTRE OS MAIORES DA ESPANHA

Na segunda parte do especial sobre os 101 anos do Valencia, completados no último dia 18 de março, relembramos a segunda metade da história do clube. Da década de 70 aos tempos atuais, fatos marcantes aconteceram. De jogadores lendários a títulos improváveis, de anos de vacas magras a campanhas espetaculares, os Morcegos tiveram vários momentos de protagonismo no futebol espanhol.

ANOS 70 – A ERA KEMPES

Em 1970 a chegada de Alfredo Di Stéfano ao comando técnico do Valencia gerou muitas expectativas, já que mesmo sendo pouco rodado, o treinador havia conduzido o Boca Juniors  a dois títulos nacionais no ano anterior. Nem as atuações irregulares da pré-temporada ou as saídas de importantes jogadores, como Waldo e Guillot, foram capazes de tirar a confiança que os torcedores depositavam na equipe.

Passados 24 anos do último título da Liga Espanhola, o Valencia voltou a levantar o troféu mais cobiçado do futebol do país na temporada 70/71. A conquista foi confirmada na última rodada, após uma combinação de resultados que favoreceu a equipe comandada pelo argentino naturalizado espanhol. Mesmo sendo derrotado pelo Espanyol no Sarriá, o empate entre Atlético de Madrid e Barcelona no Vicente Calderón foi suficiente para dar o 4º título espanhol aos Morcegos. A equipe foi a menos vazada da competição, tendo o goleiro Abelardo como vencedor do Troféu Zamora. Foram apenas 19 gols sofridos em 30 partidas disputadas (média de 0,36 gol, uma das mais baixas até hoje).

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Figura 1 – Elenco e comissão técnica posam para foto durante a temporada vitoriosa de 71/72 (Foto: El Centrocampista)

Na temporada 71/72, o Valencia por pouco não repetiu a dose. Fez uma ótima campanha, mas terminou na segunda colocação. Depois de respeitáveis campanhas, a equipe passou por um período de transição. Trocas na presidência e na comissão técnica foram os acontecimentos as mais relevantes nos anos seguintes. No entanto, na temporada 76/77 as coisas começam a mudar com a chegada de Mario Alberto Kempes para reforçar o ataque do time. O craque argentino campeão mundial em 78 é até hoje considerado por muitos como o maior jogador da história do clube. Kempes foi o artilheiro de La Liga por duas temporadas consecutivas: 24 gols em 76/77 e 28 gols em 77/78, e se consolidou como a principal referência técnica do time.

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Figura 2 – Figura ilustrativa com alguns dados da temporada 76/77 (Foto: La Futbolteca)

 

ANOS 80 – A DÉCADA QUASE PERDIDA

A década de 80 se caracterizou como uma das mais difíceis da trajetória da entidade. Embora no primeiro ano o Valencia tenha conquistado a Recopa Europeia contra o Arsenal e a Supercopa da UEFA diante do badalado Nottingham Forest, diversos problemas se sucederam, tanto dentro como fora de campo. Após a Copa do Mundo de 1982 realizada na Espanha, o clube acumulou dívidas decorrentes de importantes obras realizadas para a modernização do Mestalla e do seu entorno. Nem mesmo o retorno financeiro resultante do sucesso do evento foi capaz de livrar o clube de um déficit avaliado em 1 bilhão de pesetas na época.

Figura 3 - Ricardo Arias levanta a taça da Supercopa da UEFA em plena casa do Valencia (Foto: Bob Thomas / Getty Images)
Figura 3 – Ricardo Arias levanta a taça da Supercopa da UEFA em plena casa do Valencia (Foto: Bob Thomas / Getty Images)

Os problemas internos foram se refletindo no ambiente de jogo. O Valencia escapou do rebaixamento somente na última rodada de La Liga na temporada 82/83. Na classificação final, empatou com o primeiro rebaixado Las Palmas em pontos, e acabou permanecendo na elite devido ao critério do saldo de gols.

Enquanto as dívidas aumentavam, o desempenho da equipe continuava fraco. Em 85/86, um fato inédito, porém anunciado, ocorreu: o Valencia sofreu o primeiro descenso de sua história. Desde que começou a disputar a primeira divisão da Espanha, o time jamais havia vivido uma situação como essa.

Apesar das dificuldades, o grande esforço da temporada seguinte foi recompensado. Contando com o apoio de sua apaixonada torcida, o Valencia foi campeão da segundona e voltou para a divisão principal já com Arturo Tuzón como presidente. E, finalmente, a instituição conseguiu um superávit econômico em 87/88, que reduziu consideravelmente as dívidas pendentes. O bom trabalho do novo presidente deu frutos e pouco a pouco o Valencia se colocou novamente entre os grandes, voltando a disputar uma competição europeia em 88/89.

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Figura 4 – Os onze escalados na partida decisiva pelo acesso. O adversário foi o Recreativo Huelva (Foto: Divulgação / Marca)

 

 

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Figura 5 – Capa do tradicional jornal Marca no dia 1º de junho de 1987 (Foto: Divulgação / Marca)

ANOS 90 – O RESSURGIMENTO

A década de 90 representou, economicamente e desportivamente, a ressurreição do Valencia. O time conseguiu se manter na parte de cima da tabela de La Liga em várias temporadas, conseguindo consecutivas classificações para a Copa da UEFA. Em 1992 foi o inaugurado o complexo Ciudad Deportiva de Paterna. Além disso, naquele mesmo ano o clube se converteu em Sociedad Anônima Deportiva (SAD), assim como vários outros clubes do futebol espanhol, o que abriu portas para novos acionistas.

A dura derrota sofrida para o Karlsruher na segunda fase da Copa da UEFA da temporada 93/94 motivou o então presidente Francisco Roig a não medir esforços para recolocar o Valencia no caminho das conquistas. No entanto, não houve êxito. O time ficou com o vice da Copa do Rei em 94/95 e com o vice do Campeonato Espanhol em 95/96.

Em 98/99 a presidência é assumida por Pedro Cortés Garcia. O italiano Claudio Ranieri foi o nome escolhido para comandar a equipe. Naquela temporada o Valencia foi campeão invicto da Copa do Rei, não tomando conhecimento dos seus adversários. Nas quartas, a vítima foi o rival local Levante. Nas semis, aplicou um histórico 6 a 0 em cima do Real Madrid no jogo de ida. Na final, uma atuação de gala para derrotar o Atlético de Madrid e enfim encerrar um jejum de 18 anos sem títulos de primeira escala. Logo depois veio o título da Supercopa da Espanha contra o Barcelona.

Figura 6 - O ídolo e talentoso meio-campista Gaizka Mendieta se prepara para marcar um golaço (Foto: Divulgação / Valencia CF)
Figura 6 – O ídolo e talentoso meio-campista Gaizka Mendieta se prepara para marcar um golaço (Foto: Divulgação / Valencia CF)

 

ANOS 2000 – VALENCIA IMPÕE RESPEITO

As incríveis campanhas do Valencia na Liga dos Campeões da UEFA das temporadas 99/00 e 00/01 ficarão guardadas na memória dos torcedores. Atingir duas finais consecutivas da principal competição de clubes da Europa é um feito que poucos foram capazes de fazer até hoje desde que o torneio adotou a formatação que conhecemos.

Figura 7 - Arte produzida para a final entre Valencia e Real Madrid realizada no Stade de France (Foto: Divulgação / UEFA)
Figura 7 – Arte produzida para a final entre Valencia e Real Madrid realizada no Stade de France (Foto: Divulgação / UEFA)

 

Em 99/00, depois de avançar duas fases de grupos, o Valencia deixou a campeã italiana Lazio pelo caminho e eliminou o Barcelona antes de chegar a tão sonhada final contra o Real Madrid. Em 00/01, os Ches lideraram as duas fases de grupos para eliminar o tradicional Arsenal e o surpreendente Leeds United o mata-mata. O título não veio em nenhuma das duas ocasiões. Na primeira final, derrota para o Real Madrid por 3 a 0 no Stade de France. Na segunda, derrota para o Bayern de Munique na disputa por pênaltis no San Siro.

Na temporada 2001/2002, mais um grande feito, dessa vez a nível nacional. O Valencia conquistou La Liga pela quinta vez na história, e até com algumas rodadas de antecedência. Novamente a defesa foi destaque em um título, o que garantiu o Troféu Zamora ao goleiro Santi Cañizares, pelo fato de ter sido o menos vazado do campeonato.

Figura 9 - Em pé: Cañizares, Marchena, Pellegrini, Carew, Albelda e Sánchez. Agachados: Rufete, Angulo, Curro Torres, Aimar e Carboni (Foto: O Futebólogo)
Figura 9 – Em pé: Cañizares, Marchena, Pellegrini, Carew, Albelda e Sánchez. Agachados: Rufete, Angulo, Curro Torres, Aimar e Carboni (Foto: O Futebólogo)

 

A temporada 03/04 foi a mais brilhante do século XXI. Ainda sob o comando de Rafa Benítez, o time conquistou La Liga pela sexta vez na história e levou o título da Copa da UEFA. Foi o doblete mais importante de todos. A defesa foi o grande trunfo da equipe mais uma vez, que teve a participação decisiva de jogadores como Aimar, Baraja, Ângulo, Mista e Vicente, além de brasileiros como Fábio Aurélio e Ricardo Oliveira.

Como cereja do bolo, a equipe ainda conquistou a Supercopa da UEFA diante do Porto em 2004.

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Figura 10 – Nem a derrota na última rodada estragou a festa dos campeões (Foto: Divulgação / LFP)

 

Nas temporadas seguintes, vários atletas vencedores compuseram o elenco ché. Como exemplos podemos citar Jordi Alba, Juan Mata, David Silva e David Villa. Todos eles fizeram parte do ciclo mais vitorioso de toda a história da Seleção Espanhola, que se deu entre 2008 e 2012.

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Figura 11 – Mata, Silva e Villa estavam no time campeão da Copa do Rei da temporada 07/08 (Foto: Divulgação / Valencia CF)

 

ANOS 2010 – VENDA DO CLUBE E TÍTULO NO CENTENÁRIO

O Valencia continuou sendo um dos coadjuvantes mais indigestos em meio ao protagonismo de Real Madrid e Barcelona nos primeiros anos da década. A equipe terminou na terceira colocação da Liga Espanhola por três temporadas seguidas. Apesar disso, o clube se endividou bastante e teve problema com as receitas, mesmo com a saída de importantes jogadores, como o caso do atacante Roberto Soldado, vendido ao Tottenham por 30 milhões de euros em 2013.

Com a promessa de saldar dívidas gigantescas e de alto investimento em contratações, o magnata Peter Lim adquiriu o Valencia em 2014. Contudo, as primeiras temporadas foram decepcionantes para os torcedores. Contratações equivocadas, constantes trocas de treinador, gastos exorbitantes, atuações pouco inspiradas e campanhas ruins foram motivos para os protestos organizados pelos aficionados.

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Figura 12 – Negredo foi uma das contratações que não renderam o esperado (Foto: Divulgação / Goal) 

Após campanhas irregulares, o Valencia voltou a se classificar para a Champions League após a quarta colocação na temporada 2017/2018. Apesar de ter vivido uma década de turbulências, os Ches aumentaram sua galeria de troféus com o título da Copa do Rei da temporada 2018/2019. A importância da taça ficou ainda maior, já que 2019 foi o ano do centenário do Valencia.

Jogando no Benito Villamarín, o Valencia precisou de 30 minutos para decidir a final contra o poderoso Barcelona. O francês Kevin Gameiro e o brasileiro Rodrigo foram os autores dos gols na vitória por 2 a 1, que deu a oitava taça de La Copa para os valencianistas, encerrando um período de 11 anos sem conquistas.

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Figura 13 – O capitão Dani Parejo recebendo das mãos do Rei Filipe VI a taça da Copa do Rei (Foto: Divulgação / RFEF)

 

Essa foi a parte final do especial sobre os 101 anos do Valencia. Provavelmente ainda teremos muitas histórias para contar sobre esse tradicional clube espanhol daqui pra frente, que sem sombra de dúvidas, merece todo reconhecimento do fã de futebol internacional.

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Fernando Pimentel

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