Anderson Silva x Belfort: A semente do MMA no Brasil
O UFC 126 foi o grande precursor da explosão do esporte no País
No dia 5 de fevereiro de 2011, Anderson Silva e Vitor Belfort se encontraram em Las Vegas para realizar a denominada ‘’Luta do século’’, que além de icônica do ponto de vista esportivo, trouxe a expansão do MMA para o nosso território, conquistando milhões de novos fãs e abrindo um mercado importante para o evento. Não é nenhum exagero considerar tamanha importância para essa luta e iremos abordar alguns pontos de destaque.
Antes de qualquer rivalidade externa ou contexto envolvido, dois dos melhores lutadores da história entrariam em guerra durante cinco rounds. O campeão, Anderson Silva, que na época era o número um do mundo peso por peso, com 7 defesas de títulos (recorde) e 13 vitórias consecutivas. E o desafiante, Vitor Belfort, que era ex-campeão em duas categorias do UFC.
O duelo entre os brasileiro foi cancelado duas vezes, primeiro por conta de uma lesão de Silva durante a preparação para o UFC 108, em 2 de janeiro de 2010 . Na segunda oportunidade que aconteceria no UFC 112, foi a vez de Belfort se lesionar. A espera foi mais um ingrediente harmônico dentro da panela desse evento histórico.
Vale também lembrar da parceria que tiveram. Cada academia tem sua filosofia, cada equipe tem suas regras de conduta, essas coisas possuem grande valor dentro do esporte. Anderson Silva e Vitor Belfort haviam sido companheiros de treino na Team Nogueira, e um dos códigos de honra estabelecidos é de que os integrantes do time não se enfrentam em lutas oficiais. Mesmo assim, Belfort decidiu que lutaria pelo cinturão, o que desapontou Anderson: Faço parte de um time, uma família, que é o Team Nogueira. O Vitor foi muito bem recebido dentro desse time. A gente tem um código de honra que é inquebrável: ninguém luta com ninguém de dentro da equipe.
Outros aspectos também elevaram o nível de atenção do público, desde a participação de Steven Seagal na preparação do Spider, o que trazia um ar de mistério e curiosidade no imaginário dos fãs, até as declarações que antecederam o evento. Em uma entrevista, Belfort disse o seguinte: ‘’ Acho que o Anderson tem muitos pontos fortes, mais pontos fortes do que fracos. Mas ele veste uma máscara daquilo que ele não é. Essa insegurança dele o leva a fazer coisas assim’’. Após essa declaração, Silva apareceu com uma máscara branca na pesagem, usando a encarada como forma de resposta.
Enfim, chegamos ao dia da luta. O impacto era claro, a imprensa brasileira chegou em peso para o evento, mais de 30 jornalistas brasileiros viajaram para os Estados Unidos. A disputa foi decidida no primeiro round, que durou 3 minutos e 25 segundos. Na maior parte do tempo a postura foi de espera dos dois lados, com uma ou outra tentativa de golpes, até que o Spider se posiciona com o ajuste perfeito para a mecânica do ‘’Mae Geri’’, chute frontal ensinado por Seagal. Execução perfeita, direto no queixo de Belfort que imediatamente foi ao chão. Esse chute ficou eternizado, um nocaute digno do tamanho da luta. Essa é uma daquelas imagens instantâneas na memória quando falamos em MMA. Ao final da luta, muita humildade de ambas as partes, troca de abraços e respeito acima de qualquer desavença.
“Quando eu desembarquei no Brasil depois da luta, eu percebi que alguma coisa tinha mudado. Eu e meu amigo demoramos três horas para sair do aeroporto. Várias pessoas queriam tirar foto, pedir autógrafo’’
A emissora Rede TV, detentora dos direitos de transmissão desse evento, chegou à liderança do Ibope com esse duelo. Isso despertou o interesse de outras emissoras, tanto que a Rede Globo fechou contrato com o UFC no mesmo ano e até hoje renova para novas transmissões, ano após ano. Os eventos passaram a ocorrer com frequência no Brasil, anteriormente, apenas um único, em 1998. Após a luta, tivemos quatro eventos no ano seguinte, 2012. Todos esses fatores indicam o peso que essa luta teve para o futuro próspero do MMA no Brasil, agora, milhares de fãs seguem apaixonados pelo esporte.
Imagens: UFC