Opinião: O futebol uruguaio está às moscas!

 Opinião: O futebol uruguaio está às moscas!

Crise na AUF, endividamento dos clubes e resultados pífios em torneios internacionais colocam em cheque o futebol uruguaio como terceira força na América do Sul

Ano passado, este mesmo site fez uma reportagem com o seguinte título: “ O que há com o futebol uruguaio? ” A reportagem buscava uma resposta para os maus resultados dos clubes charrúas nas competições internacionais. ´

Este ano os resultados ruins se repetiram, e são um dos motivos que motivaram a produção deste texto. Mas a abordagem desta vez traz fatos mais graves. O futebol uruguaio passa por sérios problemas em sua estrutura. Unidos e sincronizados como várias peças que resultam num carro, esses problemas geram como resultado o empobrecimento cada vez maior do futebol uruguaio como produto à venda, e claro, fiascos cada vez maiores e notáveis na Libertadores e Sul-Americana.

Crise na AUF

A situação na Associação Uruguaia de Futebol é caótica. O ex-presidente Wilmar Valdez envolveu-se num escândalo que abalou as estruturas do futebol. Uma gravação comprometedora feita por ele em 2016 vazou e levou-o à renúncia horas depois. Ainda não há previsão para eleição de um novo presidente. O escândalo gerou uma sangria sem precedentes e a exposição dos problemas da AUF.

Direitos de transmissão

Outro assunto polêmico e interminável no Uruguai são os direitos de transmissão do futebol local. A confusão é tanta que a Tenfield, atual detentora da Copa Uruguaia Coca-Cola (nome dado ao Campeonato Uruguaio), cedeu e publicou que caso os clubes estejam de acordo, irá rescindir o contrato acordado até 2025. Mas não há outra emissora interessada. Afinal, estaria alguém com interesse em um produto tão pobre?

Clubes endividados e sem estrutura.

Peñarol e Nacional sofrem diariamente os efeitos de suas respectivas crises financeiras. A situação mais crítica é a do Bolso. São quatro meses de salários atrasados e altos gastos nas reformas do estádio Gran Parque Central. Para tentar aliviar as contas, a cúpula do Tricolor vendeu parte da joia Cristian Oliva a um grupo de investidores, mas o dinheiro está longe de resolver todos os problemas nas finanças do clube.

No caso do Peñarol, os fracassos ano a ano na fase de grupos da Libertadores só agravam as crises financeira e política. Finalista da maior competição do continente em 2011, o Peñarol foi eliminado na fase de grupos nas últimas seis participações, e a torcida está revoltada com o último vexame na Sul-Americana.

Nos demais clubes, a questão financeira é ainda mais grave.  Para ter noção do problema, o atual campeonato deveria ter dezesseis clubes, mas tem quinze porque o El Tanque Sisley foi excluído por não conseguir pagar as dívidas.

Outro fato que ilustra bem o atraso do futebol uruguaio aconteceu nesta semana. O Montevideo Wanderers marcou um amistoso contra o Estudiantes-ARG em comemoração ao aniversário de 116 anos do clube. Até aí nada incomum. Mas a festa ficou maior porque o clube inaugurou a iluminação do estádio.  Muitos times sofrem até para manter uma estrutura profissional, com estádios precários e vazios.

E há vários outros exemplos. Como o torcedor que “emprestou” a camisa para o goleiro Kevin Dawson na partida contra o Progreso, porque o uniforme do arqueiro era idêntico ao do árbitro e não havia outro.

O futebol uruguaio parou no tempo. É quase semi-amador e os problemas refletem ano a ano dentro e fora de campo.

Na atual Libertadores, nenhum representante do país chegou às oitavas-de-final. O Wanderers saiu na primeira fase para o Olímpia-PAR. Nacional, Peñarol e Defensor terminaram em terceiro nos seus respectivos grupos e se classificaram para a segunda fase da Sul-Americana.

Na outra metade da glória já estavam Boston River, Cerro e Rampla Juniors. Apenas o Danubio foi eliminado na primeira fase. Apesar do feito histórico do Rampla (1ª vez numa competição internacional) e do Boston River (2ª vez consecutiva), o fiasco nesta fase foi notório. Dos seis, apenas o Nacional se classificou para as oitavas. O Peñarol foi escrachado pelo Atlético-PR no placar agregado: 6 a 1. E o Tricolor venceu o modesto Sol de América do Paraguai por 1 a 0 no agregado, num gol ‘sem querer” em que o zagueiro adversário chutou a bola em cima de Matias Zunino.

Peñarol e Nacional estão cada vez mais distantes dos grandes brasileiros e argentinos, financeiramente e futebolisticamente. No torneio local, diversas vezes sofrem para vencer os times pequenos pelo placar mínimo.

Os demais clubes do Uruguai sequer conseguem disputar jogos internacionais de igual para igual. De quebra, os clubes colombianos voltaram a dar trabalho e vencer as competições. Esses fatos geram cada vez mais dúvidas nos torcedores quanto ao futuro do futebol uruguaio. Futebol que, na UTI, carece cada vez mais da ajuda de aparelhos para respirar.

 

Samuel Bonicontro

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