Opinião: A vontade de controlar a narrativa que virou maior que o racismo
Opinião: A vontade de controlar a narrativa que virou maior que o racismo
Desde o último domingo (20) quando ocorreu o “Caso Gerson”, onde ele afirmou ter sido alvo de racismo por Juan Pablo Ramirez, colombiano, que joga no Esporte Clube Bahia, acarretou em um monte de mensagens sem nexo e uma criatividade sem limites para ofensa em redes sociais e para tirar o alvo do problema.
O racismo é um problema existente no mundo todo, ele mata, ele prende e faz um grupo de pessoas ser menos aceitável na sociedade por conta de sua cor de pele. É triste. É absurdo. Mata. Quando Gerson afirmou o que aconteceu, não dá para chama-lo de mentiroso e outros adjetivos podres. Pela veemência das suas reclamações e pela sua objetividade, acredito muito no atleta do Flamengo.
No entanto, para que qualquer medida seja aplicada de maneira justa e legal, precisa-se ter provas concretas do acontecido. Para dar uma punição, não basta a palavra de um, tem que ter provas, testemunhas e coisas que mostrem a veracidade dos fatos. O problema é que não surgiu nenhuma imagem ainda da injúria racial ao atleta Gerson, aí vem o problema.
Diferença de pesos e medidas?
Logo após o acontecimento no domingo, o Bahia afastou o meia Índio Ramirez, até a prova dele ser inocente ou culpado, além de prestar solidariedade ao meia Gerson, que foi a vítima na situação. Após isso, começou a investigação, e o que deveria ser algo pra solucionar, piorou tudo.
As discussões constantes entre torcedores do Flamengo e do Bahia foram muito baixas e ultrapassaram o limite do clubismo e da falta de respeito. Enquanto para os torcedores do Flamengo, quem busca a justiça tá “passando pano para o racismo”, para a torcida do Bahia a diretoria e a mídia estão usando artifícios para “prejudicar o clube e a instituição”. O Racismo saiu de cena, e veio à vontade de estar certo.
Logo acharam uma imagem de uma suposta injúria racial de Ramirez a Bruno Henrique, em outro lance, outra situação, depois do fato. Então cada lado teve uma visão, e cada laudo mostrou algo diferente. Enquanto, no caso do Flamengo os laudos apontaram que ele falou “Fala muito, seu negro”, no laudo do Bahia aponta que ele falou “Tá quanto, tá quanto”. Outro ponto importante, que não teve no laudo dos flamenguistas, foi a suposta injúria xenofóbica de Bruno Henrique, o “Gringo de merda” foi usado de maneira depreciativa, assim como Ramirez já tinha acusado o jogador flamenguista.
Em vídeo explicativo, Ramirez afirmou que foi vítima da injúria do Bruno Henrique, mas não condenou o jogador, já que achava que ele agiu de tal forma pois achou que o mesmo tinha sido racista. Bom, infelizmente, diferente do Bahia, o Flamengo não buscou explicações de Bruno Henrique sobre o ato xenofóbico, e isso só potencializa a guerra entre tricolores e flamenguistas.
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Discussão escancarou a verdade dos “torcedores”, precisamos que o Racismo seja o principal ponto
A briga por estar certo, leva mensagens podres e insultos e envolveram episódios antigos como o caso da injúria de Thuler e Lincoln, a morte por incêndio dos meninos da gávea, por lado dos erros do Flamengo. Assim como o post de “Nordestino arretado torce para time do seu estado” e até o caso da queda da arquibancada da Fonte Nova em 2007, estádio que não era administrado pelo Bahia.
Além disso, acharam maneiras, cada um em seu lado, de desqualificar os profissionais de ambos os laudos. E aí, quem tá certo e quem tá errado? Vamos buscar um terceiro laudo. Da mesma forma que não é certo chamar Gerson de mentiroso, não é certo dizer que o Ramirez está certo no momento.
A tristeza é mais pela forma ridícula e absurda que as coisas estão se desenrolando na internet. Uma terra que tem leis, mas que as pessoas continuam sendo racistas, xenofóbicas e agressoras. E que até mesmo eu sofri agressões, por ter um pensamento diferente de alguns. Queremos a justiça e a verdade, e não suposições e clubismo. Queremos que as pessoas parem de ser intolerantes. Vamos todos lutar contra o racismo. Black lives matter.