A vida após o futebol

 A vida após o futebol

Legenda: Edinho (primeiro em pé à esquerda) no Noroeste em 1987 Foto: Arquivo pessoal/Edinho

A decisão mais difícil para um atleta é o momento de encerrar a carreira, e após isso, cada jogador decide por um rumo em sua vida

Existem atletas que jogam em clubes grandes, médios, pequenos, que recebem salários altos, baixos, ou nem recebem, enfim, temos diversos tipos de jogadores de futebol, e seja qual for a sua categoria, um momento sempre chega a todos: o de pendurar as chuteiras.

Edson Atilio Manfio, mais conhecido como Edinho, teve uma carreira como jogador de futebol profissional por 10 anos, onde acumulou passagens por Noroeste, Inter de Limeira, Santacruzense, XV de Jaú, Atlético Paranaense, Joinville, além da Seleção Paulista.

“Comecei minha carreira no amador de Bauru. Mas em 81 eu servia o exército em Lins-SP, e isso me ajudou, pois em 82 eu fui indicado do futebol amador para o Noroeste, e então eu tinha uma boa condição física e deu tudo certo, impressionei os diretores do clube e iniciei minha história no futebol profissional”, relembra Edinho, que mesmo passando por outras equipes, ainda tem um carinho muito grande pelo Norusca.

“O Noroeste foi meu início, não tem como não falar dele. Eu uso muito a camisa do clube até hoje, foi onde comecei, eu entrava em campo e ouvia o grito do meu nome e arrepiava”, completou Edinho.

O ex-jogador também relembrou as dificuldades enfrentadas na época.

“Hoje é tudo diferente. Naquela época os clubes tinham dois jogos de camisa. Quem trocasse ou perdesse uma camisa tinha que pagar. Hoje trocam todos os jogos, as chuteiras são leves, a recuperação do jogador é melhor. Naquela época era só um gelinho (risos). Sem falar nos equipamentos de alta performance de musculação. Na minha época era subir escada, arquibancada, correr. Mas hoje também tem um desgaste maior, pois é mais correria, pouco tempo para recuperar, e sem esses equipamentos seria difícil render em alto nível”.

Edinho
Edinho em alguns clubes que passou (Foto: Arquivo pessoal/Edinho)

 

Após rodar no futebol profissional por dez anos, acumulando títulos e acessos, Edinho chegou a um momento difícil, o de decidir encerrar a carreira.

“Eu não tive problema de contusão, mas o maior problema foi a saudade da família. Eu já era casado, morava em Joinville e o meu filho tinha um aninho, estava longe do meu pai, da minha mãe… Então eu passei por situações difíceis e não tinha ajuda do clube, como um psicólogo, era você e sua família, não tinha um respaldo que tem hoje de conversar e preparar o jogador. Aí deu a saudade”, conta o ex-jogador.

“Eles colocaram o meu passe a venda e eu disse que só voltaria a jogar se fosse em São Paulo, e vim embora. Me ligaram depois para voltar, mas eu não quis, preferi ficar com a família. As vezes temos que estar preparados para deixar um pouco a família de lado, não só os jogadores como em outras profissões também, mas eu não estava no momento”, completou.

Após pendurar as chuteiras, Edinho investiu em um estabelecimento comercial na sua cidade querida, Bauru-SP.

“Eu joguei apenas 10 anos no profissional, mas foi o suficiente para conseguir algumas coisas na minha vida. Eu conquistei tudo no futebol. O que eu tenho hoje, alguns imóveis, foi com o futebol. Depois trabalhando eu só mantive, pude ajudar a formar meus dois filhos, que também me ajudaram no comércio. E foi daqui que eu consegui tudo, e hoje mantenho o que eu tenho, com uma aposentadoria e o meu trabalho”, disse.

 

Edinho
Edinho em seu estabelecimento comercial, segurando um quadro do Noroeste (Foto: Wesley Contiero)

 

Questionado sobre o que o futebol representou em sua vida, Edinho não pensou duas vezes para responder.

“O futebol foi um sonho. Um sonho do meu pai e meu. Fico até emocionado de falar, mas eu fiquei muito feliz pelos 10 anos que joguei e pelas equipes que passei. Se eu tivesse trabalhado com outra coisa, poderia ter conquistado mais ou até menos do que tenho hoje. Mas o que importa mesmo são os momentos maravilhosos que vivi. Não tinha final de semana, tinha concentração, vivemos em função do futebol, mas eu não me arrependo de nada, sou grato ao Noroeste, e ao futebol”, finalizou o ex-jogador.

E assim é a carreira de um atleta, cheia de altos e baixos, com muitas dificuldades, mas para eles tudo vale a pena, pois não existe um melhor sentimento do que o de realizar um grande sonho de criança.

Confira abaixo a entrevista com Edinho em áudio: 

Wesley Contiero

Jornalista, 30 anos, natural de Lins, interior de São Paulo.

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