A consagração (ou não) de Peyton Manning
Após temporada difícil, Peyton Manning tentará liderar o Denver Broncos para a conquista do Super Bowl 50
Com 1,96 de altura e 104 kgs, Peyton Manning é provavelmente o jogador com o maior Q.I. futebolístico da história da NFL. Filho do lendário Archie Manning, o ex-quarterback da universidade de Tennessee nunca teve um braço muito forte ou foi tão atlético, o que deu lenha para seus detratores desde o Draft de 1998, quando acreditava-se que Ryan Leaf, QB de Washington State, seria uma melhor primeira escolha. Foi a sua visão de jogo, contudo, junto com sua dedicação, que não apenas o possibilitou ter uma melhor carreira que Leaf, mas ser também um dos melhores quarterbacks de todos os tempos.
Tendo tudo isso em mente, avancemos para a temporada 2015/2016. Peyton Manning, indo já para seu décimo-oitavo ano na liga, havia quebrado todos os recordes históricos, com exceção do número de jardas aéreas de Brett Favre. A temporada anterior não terminara de uma maneira boa: os Broncos perderam para os Colts no divisional round e Manning já mostrava sinais de não aguentar os desgastes físicos das partidas.
Muito mais que quebrar recordes, Peyton tinha a esperança de ganhar seu segundo campeonato. Inúmeros especialistas questionam o legado de Manning porque ele venceu, ainda jogando por Indianapolis, o fraco Chicago Bears de Rex Grossman em 2006 no Super Bowl 41 e vencer Rex Grossman vale nada. Agora com uma defesa dominante liderada por Von Miller, Aqib Talib e cia, Denver era cotado como um dos favoritos da AFC para voltar a jogar a finalíssima, pela primeira vez desde a humilhante derrota para os Seahawks por 43 a 8.
Na semana 1, Denver enfrentou Baltimore em Mile High. Os comandados de Gary Kubiak ganharam por 19 a 13, mas diferente dos anos anteriores, a vitória de Denver deu-se pelo trabalho defensivo. Peyton Manning jogou claramente com algum desconforto físico e terminou com apenas 174 jardas, nenhum touchdown, uma interceptação e um rating de 59,9. Os rumores que seu braço não era o mesmo se mostraram ser verídicos, porém devido ao seu Q.I. em relação ao jogo, lhe permitiu fazer os ajustes necessários para colocar seu ataque nas melhores situações.
A partida seguinte, contra Kansas City fora de casa, foi uma daquelas que mostram a grandeza de um jogador como Peyton Manning. O primeiro tempo foi simplesmente um desastre para o ataque de Denver, mostrando mais uma vez que o QB veterano não tinha mais condições físicas para jogar na liga. Um dos problemas foi a escolha das jogadas: o coordenador ofensivo, Rick Dennison, escolhia jogadas que era necessário maior tempo para serem executadas e o pass rush dos Chiefs chegava fácil no Manning. No segundo tempo, foi Manning que começou a chamar as jogadas, com mais passes curtos e rápidos, e partida mudou completamente. Certo que o fumble bobo de Jamal Charles no final do jogo foi decisivo, mas foi o ataque, que voltou a funcionar, que determinou a vitória dos Broncos por 31 a 24.
No Sunday Night da semana 3, em Detroit, Manning jogou bem. O quarterback lançou para dois TDs, 1 INTs, 324 jardas e com um rating de 107,7. Já nas próximas três semanas, enfrentando os Vikings, Raiders (fora) e Browns (fora), Peyton Manning jogou mal apesar das vitórias. Nessa sequência de jogos, o veterano lançou para apenas dois TDs, 7 INTs e um rating péssimo de 61,5. Mesmo com um ataque irregular, Denver chegou até a bye-week invicto, seis vitórias em seis jogos.
A semana 8 foi marcada pelo confronto de duas equipes ainda invictas: Broncos contra Packers em Mile High. A defesa do time da casa simplesmente dominou Aaron Rodgers e cia, contendo-os para apenas 72 jardas aéreas. Manning, por sua vez, teve um bom jogo: 340 jardas (sua melhor marca na temporada), mas nenhum touchdown lançado e uma INT. O maior problema de Denver eram os turnovers; a defesa dava sinais de ser uma das melhores dos últimos anos e salvava muitas vezes o ataque que cometia inúmeros erros.
Foi contra sua ex-equipe, Indianapolis Colts, que Peyton Manning teve sua primeira derrota na temporada. A derrota em si foi uma surpresa porque a equipe de Andrew Luck não estava bem no campeonato e vencer uma equipe invicta como Denver estava, mesmo jogando em casa, não é fácil. Sobre o jogo, o veterano lançou para 281 jardas, dois TDs e dois INTs. Mais uma vez o problema da equipe do Colorado foram os turnovers.
Eis que chegou a semana 10, contra os Chiefs, mas dessa vez em casa. Peyton Manning precisava de apenas duas jardas para quebrar o recorde de jardas que pertencia à Brett Favre. Com um passe de quatro jardas para o RB Ronnie Hillman, porém a partida foi um desastre. Na verdade, desastre é pouco até. É muito triste pensar que bem no jogo que um jogador como Manning quebrou um recorde tão importante como esse, ele teve sua pior performance da carreira. “The Sheriff” completou apenas cinco dos vinte passes tentados para apenas 34 jardas, nenhum touchdown, quatro interceptações e um vergonhoso rating de 0,0 (isso mesmo, zero!). No meio do jogo ainda, Gary Kubiak colocou Brock Osweiler no lugar de Peyton.
Dias depois foi revelado que Manning estava sofrendo com uma lesão na plantar do pé, o que impossibilitava o jogador de fazer os passes de maneira firme e com precisão. Isso, aliado com o histórico de lesões do jogador, que diminuíram a força de seu braço, seria a razão dessas péssimas atuações. Assim, Peyton não foi relacionado para as próximas seis partidas. Nesse período, Osweiler fez um trabalho decente e aparentemente teria conseguido a vaga de titular.
Na semana 17, contra San Diego, Denver precisava de uma vitória para garantir o primeiro lugar na AFC. Manning foi relacionado e pela primeira vez, desde seu primeiro ano em Tennessee, que o cinco vezes MVP da NFL seria o backup de outro quarterback. Osweiler havia lançado duas INTs e cometido dois fumbles quando Gary Kubiak decidiu por de volta o veterano no jogo. Peyton liderou duas campanhas que resultaram em touchdowns, garantindo a vitória e o mando de casa para o resto dos playoffs. O veterano terminou a temporada com seus piores números de toda sua carreira:
Duas semanas depois, os Broncos receberam o Pittsburgh Steelers em casa pelo divisional round. Peyton jogou como titular e liderou o ataque de maneira eficiente. A defesa foi quem ganhou o jogo, mas foi importantíssimo Manning ter cometido nenhum turnover.
Na final de conferência, contra os Patriots, Manning foi espetacular no primeiro quarto. Ele lançou dois TDs para o TE Owen Daniels nos primeiros quinze minutos. Detalhe: ele havia lançado apenas um TD jogando em casa naquela temporada. A partida foi marcada pelo domínio defensivo de ambas as equipes. Mais uma vez, tirando um fumble de Ronnie Hillman, os Broncos não cometeram turnovers. Peyton soube fazer as escolhas certas e os Broncos venceram por 20 a 18.
No próximo domingo, dia 07, Denver enfrentará os Panthers, melhor time da liga, no Super Bowl 50. Carolina tem uma excelente defesa, um ataque explosivo e são os favoritos para ganhar.
Essa provavelmente será a última chance de Peyton Manning de ganhar mais um campeonato; não está confirmado ainda, mas Manning deverá anunciar sua aposentadoria após a partida de domingo. É difícil de acreditar que um time que tenha um quarterback como o “The Sheriff” que sua defesa será muito mais importante que ele próprio para garantir o título.
Eu espero que Denver ganhe não porque sou torcedor dos Broncos, mas porque penso que Manning merece uma despedida digna do seu talento e legado. Independentemente de merecer o não, o ataque do time de Colorado deve fazer o que tiveram dificuldade de fazer o ano inteiro: não cometer turnovers.
Por Pedro Pacola