Magno: a história do jogador que venceu um dos melhores times da história
Meia deu assistência na vitória do Botafogo-PB diante do Flamengo de Zico
Vestindo um traje esportivo típico de um professor de Educação Física, Magno chegou, na Vila Olímpica Parahyba, em João Pessoa, visivelmente contente com a entrevista — a todo momento agradecia aos estudantes que elaboraram este perfil. Era uma típica tarde de quinta-feira na Capital, fazia calor e ventava muito.
Magno Santos Cerqueira nasceu no dia 17 de novembro de 1953, em Itabuna, na Bahia. Vindo de uma família de classe média composta por atletas, a quem é grato até hoje, conheceu a bola nas quadras e só aos 11 anos migrou para o gramado, onde ganhou destaque. Chegou na Paraíba com 23 anos, em 1976, para jogar pela já extinta Sociedade Desportiva Borborema, na qual permaneceu por apenas um ano, quando migrou para o Botafogo-PB.
Naquela época era difícil ser jogador de futebol, faltava assistência multidisciplinar aos jogadores. Magno perdia cerca de 5 kg por partida e tinha dificuldade em repor esse peso; além disso, o esporte não era visto como profissão, diferentemente de hoje.
“Futebol era a última opção, era coisa de moleque”, ressalta o ex-meia.
“90% da torcida achava que a gente ia perder de sete ou oito gols de diferença. Mas a gente sabia que ia fazer um jogo bonito”
Em 1980, não havia time melhor do que o Flamengo, que carregava nomes como Zico, Adílio, Andrade, Zito, Carpegiani e Júnior. Esse escrete foi eternizado como o “Flamengo de Zico”, equipe na qual foi campeão mundial no ano seguinte.
As duas equipes se enfrentaram pela Taça Brasil, no Maracanã. Como o próprio Magno diz, “90% da torcida achava que a gente ia perder de 7 ou 8 gols de diferença. Mas a gente sabia que ia fazer um jogo bonito”. E fizeram. O Botafogo-PB ganhou pelo placar de 2 a 1, a única derrota do time rival na competição. Jogo esse que marcou para sempre a história do futebol paraibano.
Por mais que tivesse uma grande equipe, o Belo não era nem de longe favorito naquele confronto. O Botafogo foi a campo com Hélio Show no gol; Nonato e Marquinhos nas laterais; Geraílton e Deca formando a dupla de zaga; Nicácio, Zé Eduardo, Evilásio, Magno, Soares e Getúlio. Esse time inicial que jamais foi esquecido pelos botafoguenses de qualquer geração.
A torcida do Rubro-Negro não estava muito empolgada com a partida, já que pensara que sairia facilmente com os três pontos. 25.496 torcedores foram prestigiar esse grande espetáculo — média boa para os padrões atuais, mas baixa para a época.
O técnico do Alvinegro da Estrela Vermelha era Caiçara, que surpreendeu no time inicial. O esperado era um Botafogo fechado, esperando seu oponente. Entretanto o treinador escalou sua equipe com apenas um volante e quatro homens de frente. E assim foi em campo.
O primeiro tempo foi marcado por um jogo bonito do Flamengo, mas sem ferir a meta de Hélio Show. O Botafogo, em contrapartida, chegou algumas vezes com perigo e mostrou que poderia sair vitorioso.
Na segunda etapa, o Belo voltou com tudo. Logo aos quatro minutos, num contra-ataque veloz, especialidade da equipe, saiu o gol de Soares. A jogada veio após trocas de passes de Nicácio, que brilhantemente desarmou Zico, e Evilásio, que deu a assistência. Soares, impiedoso, abriu o placar para os paraibanos.
Esse gol mostrou que sim! Magno e os demais poderiam sair vitoriosos.
Após o gol do Botafogo, o Flamengo foi pra cima, como um leão faminto. Era inaceitável para seus jogadores perder aquele confronto. Com uma pressão enorme, saiu o empate. Tita furou as redes de Hélio para igualar o placar.
Com isso, a torcida do Flamengo foi a delírio, com a certeza de que iria virar o jogo e sair vitorioso.
A pressão do Rubro-Negro continuou, mas, aos 36 minutos, Magno colocou toda a sua habilidade e qualidade em um passe açucarado para Zé Eduardo, que não teve piedade e marcou para os paraibanos. Era o impossível se tornando realidade, e a história sendo escrita.
No fim, o Botafogo segurou a pressão do melhor time da história do Flamengo e saiu vencedor do Maracanã.
A recepção
Momentos após o apito final, a sensação dos jogadores do Belo era de extrema felicidade. Todavia, nenhum daqueles atletas imaginavam a importância dessa vitória para o povo paraibano.
Assim que voltaram para João Pessoa, os atletas foram surpreendidos com uma multidão que os esperavam. Toda a Capital estava ali, simplesmente para receber os heróis do Belo.
Recebidos nos braços de sua torcida, os jogadores do Botafogo não acreditavam no que viam. Congestionamento no trânsito e carreatas marcaram aquele histórico pós-jogo.
Esse foi mais um dos diversos exemplos de como o futebol pode representar e orgulhar toda uma população. Os cidadãos pessoenses tiveram orgulho de ver o Belo, a sua equipe, vencer o melhor time do mundo na época.
Assim como os botafoguenses que eram vivos, Magno sempre se emociona ao relembrar daquela partida. Ele expressa toda sua felicidade com apenas uma palavra: “gratidão”. Gratidão pelo dom de sua habilidade, por sua família e por ter jogado no Botafogo, clube que marcou sua vida e sua grandiosa carreira.
Por: Bruna Serpa, Iaco Lopes, Lara Lustosa e Maria Ângela Damasceno.