Opinião: Kasatkina e Osaka fazem a final da nova era da WTA

 Opinião: Kasatkina e Osaka fazem a final da nova era da WTA

Opinião sobre a final do WTA Indian Wells

Por Gabriel Mattos

Não. Não é só mais uma final. Não é como em 2017. Não é como em 2016, ou sequer como em 2015. É um sinal de mudança.

Não que o circuito não estivesse se alterando conforme as aposentadorias que vêm se concretizando e as impactantes ausências de Serena Williams, Maria Sharapova e Victoria Azarenka, mas não vemos uma final tão importante e tão jovem há bastante tempo. Daria Kasatkina e Naomi Osaka. Campanhas avassaladoras até aqui. Destronaram as maiores do mundo em sequência, sem deixar dúvidas do que desejavam no torneio.

E aqui estamos nós, prestes a uma das finais que, na minha opinião, é uma das mais interessantes dos últimos meses. Este encontro é uma mensagem que diz que a nova geração não está mais chegando: ela chegou. Jelena Ostapenko que o diga, não é mesmo?

Vez ou outra nos deparamos com finais atípicas de torneios, zebras intrigantes e partidas entediantes. Mas… não é o caso. Daria Kasatkina e Naomi Osaka não chegaram à final por sorte ou por displicência, nem um pouco.

Campanha espetacular da Kasatkina

A campanha da “Dashka” envolveu quatro campeãs de Slam em sequência: Sloane Stephens (US Open 2017), Caroline Wozniacki (Australian Open 2018), Angelique Kerber (Australian Open 2016 e US Open 2016) e Venus Williams (Wimbledon 2000, 2001, 2005, 2007, 2008 e US Open 2000 e 2001), com direito a um massacre sobre a penúltima.

Já a japonesa era considerada como zebra desde a primeira rodada, quando enfrentou a Maria Sharapova. Após a vitória sobre a russa, venceu grandes nomes Agnieszka Radwanska, Karolina Pliskova e a atual número 1 do mundo, Simona Halep, com um belo de um bagel no segundo set. Final entre tenistas não tão conhecidas? Talvez. Final entre jogadoras não tão boas? Sem chance.

Daria Kasatkina: a russa menos russa do circuito. Dentre tantas bandeiras da Rússia quando se navega no ranking da WTA, essa é a que mais me chama atenção. Apenas 20 anos de idade, mas de tênis e atitude impressionantes. Em uma rápida pesquisa, encontra-se a sua maior inspiração no esporte: Rafael Nadal. E é perceptível: a atitude sempre positiva da russa, a solidez em seu jogo e até mesmo a mordida no troféu de campeã. Ela não esconde. E que bom que não esconde. Assim como o espanhol, Daria Kasatkina é uma estrela em ascensão – não no mesmo peso, claro. A tenista coleciona três finais de WTA na carreira, com uma vitória no Premier de Charleston, onde venceu a Jelena Ostapenko por 6-3 6-1, numa semana também brilhante.

Osaka não é uma mera desconhecida

Naomi Osaka: a minha conta favorita do Twitter. Uma menina com um humor excelente, e assim também é o seu tênis. Apesar de uma certa inconsistência, a japonesa possui um talento enorme. Em 2016, jogou o Premier de Tóquio, onde entrou como convidada. Venceu a Cibulkova e a Svitolina com uma certa tranquilidade e acabou perdendo para a Wozniacki na final do torneio.

Ali nasceu um novo nome e uma esperança para o tênis do Japão. E hoje, essa esperança está mais que concretizada. Além disso, a Osaka também chegou às oitavas do AO desse ano, onde perdeu para a Halep, na época também número 1.

Não minto, tenho altas expectativas para essa partida. São jogadoras que mostraram um nível absurdo de tênis nesses últimos dias. Um nível que nunca mostraram anteriormente. E isso me enche de esperança, porque tenho visto que a maioria das tenistas novas joga com a força e não com a cabeça.

Olhemos o ranking de jogadoras com menos de 23 anos: Ostapenko, Kontaveit, Vondrousova, Siniakova, Sabalenka… são aquelas que se não estão num bom dia, perdem. Com certeza. E ainda tem o velho clube das “baloeiras”, que tem como principal meta na quadra passar a bola pro outro lado. Mertens, Bellis, Sakkari, Vikhlyantseva… sobram, no top 100, alguns poucos nomes.

Dentreeles, as duas finalistas. E o estilo de jogo é muito interessante: a Kasatkina preza pela solidez; a Osaka, pelo winner (apesar de não se encaixar na categoria que citei acima).

E, como vimos na última partida da russa, esse tipo de adversária dá muito trabalho. E dá um belo espetáculo. Caso não haja aquele medo absurdo que tenistas novas têm de finais (e não é errado, aliás), teremos com certeza uma final brilhante, mesmo que em dois sets. Espero não estar errado.

Detalhes sobre Indian Wells

E é uma pena que Indian Wells esteja acabando. Foi um torneio muito bom, ao contrário do que vinha sido apresentado nas últimas semanas. Tivemos velhas jogadoras mostrando um bom nível, como a Suarez Navarro, e jogadoras muito novas brilhando no circuito, como a Anisimova e a Vondrousova. Sentirei saudades dessa quadra lenta varrendo jogadoras que batem na bola com a maior força possível até o fim do jogo. Ao fim do torneio, o tênis jogado com o cérebro prevaleceu.

Por fim, gostaria de lembrá-los: não coloquemos pressão e expectativa demais. A inconsistência é um problema real. A Ostapenko venceu Roland Garros e desde lá tem tido problemas com seu jogo.

A Stephens venceu o US Open e tem sofrido com derrotas muito amargas. A própria Kasatkina começou o ano mal. Perdeu pra polonesa Magda Linette no início do torneio. Não seria uma surpresa caso ambas as jogadoras perdessem na primeira partida de Miami. Mas relaxemos, a longo prazo, muito provavelmente veremos essas mesmas jogadoras sendo a elite do circuito. O futuro está aí.

 

Henrique Leite

Cruzeiro, Coritiba, Liverpool e Milan. Aliaksandra Sasnovich, Anett Kontaveit e CoCo Vandeweghe. Carolina Marin, Beatriz Corrales e Line Kjaersfeldt.

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