Crônica: Sociologia, futebol e religião em um diálogo
Sociologia, futebol e religião em um diálogo: uma crônica por Victor de Oliveira
Foto: Reprodução Rua Direta/Google
Era uma manhã de segunda-feira em abril de 2004. Enquanto eu me preparava para mais um dia, fiz uma educada indagação para a Regina, funcionária da família:
– “Como foi o seu domingo, Regina?”
– “Foi ótimo. Teve um culto especial na minha igreja. Chegamos cedo, preparamos tudo e o pastor estava impecável. Foi lindo!”
Em apenas cinco segundos, imaginei e julguei, no auge da minha arrogância juvenil, a escolha que ela havia feito para passar o domingo.
Pensei: “ela moldou o dia em torno daquilo, gastou seu descanso para ir ao culto, saiu de casa para se reunir com pessoas que pensam exatamente como ela, não abriu espaço para ideias diferentes, cantou e vibrou em rituais de gosto duvidoso, acreditou em pessoas que supostamente representam algo, gastou dinheiro do próprio bolso por uma causa que não se sabe bem se é verdadeira, em um lugar hipoteticamente santificado. É muita ignorância! ”
– “Ah, sim. Legal”, respondi.
Sem perceber meus pensamentos arrogantes, imagino eu, ela me devolveu a pergunta com certa inocência.
– “E você? Fez o que ontem?”
Cheio de orgulho e com a certeza da razão, respondi:
– “Foi dia de final, não é? Jogão e com estádio lotado. A festa foi linda e nós vencemos!”
Não sei o que ela pensou sobre a minha resposta e a programação que eu havia participado no dia anterior. Provavelmente nunca saberei como ela digeriu aquilo.
Suspeito que a Regina, também nos segundos após a minha resposta, talvez tenha refletido de maneira parecida com a minha.
Ela pode ter pensado: “ele moldou o dia em torno daquilo, gastou seu descanso para ir ao estádio, saiu de casa para se reunir com pessoas que pensam exatamente como ele, não abriu espaço para ideias diferentes, cantou e vibrou em rituais de gosto duvidoso, acreditou em pessoas que supostamente representam algo, gastou dinheiro do próprio bolso por uma causa que não se sabe bem se é verdadeira, em um lugar hipoteticamente santificado. É muita ignorância! ”
Regina, não sei onde você está agora. Eu só queria te dizer que eu te compreendo. Compreendo seu culto, seus rituais, seu grupo. Compreendo sua parte da sociedade e como você se sente estando ali.
Eu também sinto o mesmo, faço o mesmo, penso o mesmo. Não posso e nem quero mais julgar o seu comportamento.