Boleyn Ground: crônica de um torcedor para o adeus

 Boleyn Ground: crônica de um torcedor para o adeus

Crônica de um torcedor apaixonado que esta perto de perder um de seus maiores patrimônios, o Boleyn Ground

Em um belo dia o torcedor Hammer irá acordar, ver o céu nublado em Londres e pensar “Come you on Irons”,
temos jogo hoje. Chegando em Upton ele nota algo estranho, estação vazia, Green Street cinza. Não há mais um Boleyn Ground a pulsar. E as bolhas, onde estão? Então o apaixonado torcedor se lembra que agora são mais quatro cinco estações à frente que ele tem que percorrer.
Sim, o tradicional West Ham se mudou e agora terá uma nova casa. Nove anos após nascer, o clube londrino se instalou em Upton, no simpático Boylen Ground. Na época o time caminhava apenas de um simples clube operário para se tornar um grande clube inglês.

O bairro ganhou a cara do clube, que abraçou o bairro e caminharam juntos por anos, viram as grandes guerras passarem por ali, foram bombardeados e se levantaram mesmo assim, viu um ídolo eterno nascer, morrer e o tornou imortal, viu sucessos e fracassos, porém sobreviveu a tudo isso, somente não conseguiu sobreviver à modernidade do futebol.

O clube que novamente tenta despertar do sono profundo em que se encontra e que tenta voltar a erguer taças, resolveu sair de seu eterno bairro para um outro, nem tão longe assim e até mais glorioso, mas e as glorias do passado? A grama sagrada de Boleyn, a festa em Green Street?

Para o velho torcedor que citei no início do texto, imagine como é entrar no no novo estádio e não se lembrar da primeira vez em que adentrou ali com seu pai, de não lembrar do seu ídolo de infância correndo por ali, o futebol muitas vezes é um refúgio para o torcedor, um museu de lembranças e com certeza é mais que um negocio, é uma paixão.

Por mais belo o Estádio Olímpico, a academia de futebol não nasceu ali, Bobby Moore, Geoff Hurst, Peters, Parkes Trevor, Julian Dicks, Ludek Miklosko, Frank, Devonshire, Di Canio e nem os The Best of Boys de Cotte, jogaram ali.

Boleyn Ground
Remoção dos famosos portões em Boleyn Ground

O que nos resta é desejar que o novo estádio traga de volta às glorias e o bom futebol, pois a torcida fanática mesmo que em outro lugar estará lá soprando bolhas, lindas bolhas pelo ar, levando sonhos, futebol, alegria e o West Ham ao mais alto possível. Quanto ao condomínio de “belos prédios” que se erguerá no lugar da eterna academia só desejo, sinceramente, que uma velha senhora abra a janela de seu apartamento, com vistas para a Azenha, seja surpreendida por um ensurdecedor grito de “United”. Que cada vez que alguém entre no elevador sinta as estruturas tremerem e ouça milhares de passos de uma comemoração sem fim. Que cada noite, fantasmas de volantes e zagueiros assombrem os corredores, quebrando janelas com bolas chutadas furiosamente. Rogo que um gramado inexplicavelmente brote todos os dias sob o estacionamento.

Amén!

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