30 anos depois, a Copa América retorna ao Brasil
Com Bebeto e Romário no ataque, a Seleção Brasileira levou o caneco na Copa América de 1989, mesmo com duras críticas da torcida
Um Campeonato cheio de dúvidas. Este era o cenário da Seleção Brasileira no ano de 1989, para a disputa da Copa América. O time, além de vir de 19 anos sem conquistas – a última taça foi o tri em 1970 – tinha uma pressão enorme em cima da comissão técnica.
QUEM PARTICIPOU?
Naquela edição, foram dez seleções participantes, divididos em dois grupos de cinco:
GRUPO A
- Brasil, Colômbia, Paraguai, Peru e Venezuela;
GRUPO B
- Argentina, Bolívia, Chile, Equador e Uruguai.
As partidas foram disputadas em Goiás (Serra Dourada), Salvador (Fonte Nova), Recife (Arruda) e Rio de Janeiro (Maracanã).
O INÍCIO COMPLICADO DA SELEÇÃO BRASILEIRA
Os jogadores da Seleção Brasileira de futebol (da esquerda para a direita), em pé: Mazinho, o goleiro Taffarel, Maurão Galvão, Ricardo Gomes, Aldair e Branco; agachados: Bebeto, Romário, Silas, Dunga e Valdo – Gazeta Press
A situação da seleção já era difícil desde a convocação. Naquela época, o Bahia era o atual campeão brasileiro, e tinha em seu ataque o centro avante Charles, que foi destaque da conquista. Mesmo assim, o técnico Sebastião Lazaroni não o convocou.
Porém, naquele ano, o então convocado Careca se lesionou e foi cortado. Charles até chegou a ser convocado para o lugar do atacante, mas como eram permitidos 20 jogadores selecionados – e aquela convocação tinha 23 – Charles foi um dos cortados. Isso gerou uma grande revolta da torcida baiana na época, justo o palco da estreia do Brasil na Copa América.
Nem a vitória por 3 a 1 sobre a Venezuela (BRA – Bebeto, Geovani e Baltazar; VEN – Maldonado) fez a torcida se acalmar. Teve bandeira do Brasil queimada, vaias da torcida e até ovada em jogador. Este fato fez a seleção se afastar das terras baianas por 6 anos. O atacante Charles comentou recentemente o caso:
“No primeiro momento eu não tava convocado, houve uma revolta muito grande do torcedor. Fui convocado por causa da contusão do Careca. Me integrei à seleção, mas naquela época tinham 23 atletas, e você só poderia inscrever 20. Eu fui um dos três jogadores cortados. Quando o Maracajá [Presidente do Bahia na época] soube que eu não estaria entre os 20, houve uma revolta muito grande do torcedor baiano, da imprensa, e aí aconteceu todo aquele processo de vaia, de queimar bandeira da seleção, de jogar ovo em jogador, porque sabia que tinha atleta que tinha condição de estar ali, de representar o estado, e infelizmente eles cercearam isso, essa oportunidade que eu teria de estar atuando diante de meu torcedor, do povo baiano, dos meus conterrâneos”, contou Charles.
No segundo jogo da seleção, o Brasil empatou em 0 a 0 com o Peru, também jogando em Salvador. Nesse jogo, o clima era o mesmo nas arquibancadas: vaias e hostilidade na arquibancada.
Gazeta Press
No último jogo da seleção em terra soteropolitana, o Brasil teve outro empate em 0 a 0, dessa vez contra a Colômbia.
A segunda vitória da Seleção veio quando a equipe foi até o Recife, para enfrentar o Paraguai, que vinha de três vitórias consecutivas na competição. Porém, com o apoio do torcedor pernambucano, o Brasil venceu por 2 a 0 (Bebeto 2x). Depois da vitória, Lazaroni deu declarações fortes à imprensa:
“Cada público tem o futebol que merece”– disse Lazaroni após o jogo, cutucando a torcida baiana.
Lazaroni no comando da Seleção (Gazeta Press)
A REVIRAVOLTA LONGE DO NORDESTE
Na fase final, as quatro seleções classificadas (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) foram agrupados em um único grupo. As partidas foram todas disputadas no Maracanã.
A Seleção Brasileira tinha pela frente ninguém menos de que a Argentina, atual campeã do mundo, com Maradona no meio campo. O time era considerado o favorito para a conquista do título, e para muitos, aquele era o fim da linha para os comandados de Lazaroni.
Dunga marcando o meio campista Diego Maradona (Divulgação)
O destaque da foto acima teve uma noite díficil no Maracanã. Logo no início do jogo, Romário deu uma caneta no meia, mostrando que o clima estaria favorável para o Brasil. O Brasil venceu por 2 a 0, com direito a golaço de voleio marcado por Bebeto, e o segundo tento foi anotado por Romário. Há quem diga que foi a melhor atuação da seleção no torneio.
Na segunda partida, o Brasil enfrentou o Paraguai, que fez boa campanha na fase de grupos. Em campo, a superioridade da seleção brasileira se mostrou antes dos 20 minutos, com Bebeto. O rei do voleio ainda anotou mais um gol, e Romário fechou o placar.
O lateral Branco/Gazeta Press
A GRANDE REVANCHE CONTRA O URUGUAI
A grande final da Copa América tinha diversos ingredientes para ser um jogo inesquecível. Primeiro, o adversário; a seleção do Uruguai. Segundo, a data: 16 de julho. Para quem não sabe, foi em um 16 de julho, contra o mesmo Uruguai, que ocorreu um dos maiores fracassos do Brasil: o Maracanazo. A seleção foi superada na final da Copa do Mundo de 1950 com uma derrota para o Uruguai por 1 a 0.
O árbitro chileno Hernan Silva Arce (C) e os capitães Francescoli (E), do Uruguai, e Ricardo Gomes, da Seleção Brasileira – Gazeta Press
Na final de 89, Brasil e Uruguai estavam rigorosamente empatados até o confronto. A seleção celeste bateu o Paraguai por 3 a 0 (Francescoli, Alzamendi, Paz) e bateu a Argentina por 2 a 0 (Sosa 2x).O Brasil bateu os mesmos adversários, pelos mesmos placares. Um equilíbrio impecável.
O primeiro tempo foi como era esperado; poucas chances, jogo truncado. Os embates com os uruguaios sempre são dessa maneira, com muitas faltas e divididas duras. O gol do título veio só aos 4 minutos da etapa complementar, com Romário. O baixinho decidiu a partida e ajudou o Brasil a conquistar o título.
Com a vitória, o Brasil encerrou o jejum de 19 anos sem conquistas, o que deu para Sebastião Lazaroni um grande respaldo para manter a comissão técnica até a Copa do Mundo de 1990. Após a vitória, Bebeto – artilheiro do torneio com 6 gols – falou sobre a conquista:
“Foi o único torneio que joguei com o apoio da torcida brasileira. Fui eleito o melhor jogador e artilheiro. Não tive a oportunidade que os jogadores de hoje terão, de jogar uma Copa do Mundo no meu país. Mas posso dizer que joguei a Copa América. E é impressionante a motivação. É um negocio muito forte”, disse Bebeto.
Mazinho (com o troféu), jogador da Seleção Brasileira de futebol, comemora a conquista da Copa América – Gazeta Press
Esta foi a 4ª conquista de Copa América da Seleção Brasileira, 30 anos depois da última conquista do mesmo torneio. Até hoje, o Brasil é octacampeão do torneio, e está em 3º no número de conquistas, atrás da Argentina (14 títulos) e o Uruguai (15 títulos).