Análise: O futebol feminino brasileiro precisa de apoio?

Com participações de Camilinha, Karla Alves e Jaqueline Ribeiro, confira uma breve análise sobre a situação do futebol feminino

Atualmente, o futebol feminino vem ganhando cada vez mais adeptos. As mulheres vem praticando cada vez mais o esporte no Brasil e no mundo. De acordo com o Boletim Informativo Diário (BID) da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), cerca de 937 jogadoras estão inscritas no Campeonato Brasileiro Feminino 2017, sendo 529 jogadoras na Série A1 e 408 jogadoras na Série A2. Segundo a CBF, cerca de 35 brasileiras estão inscritas em campeonatos estrangeiros.

Os dados listados no parágrafo anterior, mostram que há uma diferença brutal em comparação ao futebol masculino, pois somente no Campeonato Italiano (futebol masculino) há 31 jogadores brasileiros inscritos, ou seja, praticamente o mesmo número de jogadoras do Brasil no exterior. Há muitas diferenças entre o futebol feminino e o masculino, como por exemplo: o apoio, a presença do público no estádio, investimento, profissionalismo e muito mais. Além disso, também podemos destacar os preconceitos vividos diariamente por diversas jogadoras.

Por isso, nós do Esportes Mais convidamos as jogadoras Jaqueline Ribeiro (atacante do Santos FC), Karla Alves (meio-campista do Santos FC) e a Camilinha (meia-atacante do Orlando Pride) para participar da nossa análise. O primeiro tema a ser analisado foi o preconceito e as oportunidades que, segundo a Karla e a Jaqueline, há muito preconceito e poucas oportunidades.

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Crédito da foto: (Santos FC)

“Tudo é mais difícil do que o masculino, já que temos pouco reconhecimento e quase nada de investimento. Então, quando temos a chance de jogar nos poucos clubes que existem no futebol feminino, temos que agarrar a oportunidade e ralar muito para chegar à Seleção Brasileira”, disse Karla Alves.

“A maioria das meninas sofrem preconceito. Eu sempre escuto piadinhas de que futebol é para o homem, já o lugar da mulher é na cozinha. Já passei por várias situações, mas isso nunca me desanimou, eu ignoro e levanto a cabeça”, contou Jaqueline Ribeiro.

O público presente nos estádios para o futebol feminino no Brasil é considerado baixo, pois muitos clubes não cobram ingressos e mesmo assim os estádios e centros de treinamentos ficam praticamente vazios. O time feminino que leva mais torcedores ao estádio é o Iranduba, afinal, desde de junho só o Princesa de Solimões está representando o futebol masculino amazonense em algum torneio, que seria o Campeonato Brasileiro Série D. Sendo assim, influenciando no público do Iranduba, pois os jogos da equipe feminina é considerada uma atração a mais.

O Iranduba é um dos poucos times que cobram ingresso, por exemplo, no último jogo foi cobrado 20 Reais (inteira). Em sua última partida, o time feminino do Amazonas levou cerca de 25 mil torcedores à Arena da Amazônia para a semifinal do Campeonato Brasileiro contra o Santos FC, sendo assim, foi o maior público de todos os tempos do futebol feminino entre clubes no Brasil. O maior número de torcedores em um estádio na história do futebol masculino no Brasil é de aproximadamente 155 mil pessoas, recorde estabelecido no jogo entre Flamengo e Santos FC no Maracanã em 1983. Logo, percebemos a brutal diferença entre o público presente nos estádios entre o futebol masculino e feminino.

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Crédito da foto: (Santos FC)

“Muitas vezes é um sentimento de tristeza, pois lutamos tanto pelo nosso espaço e parece que ninguém enxerga. Por isso, quando tem uma torcida que valoriza uma equipe como a de Manaus, merece todo o nosso respeito de atleta. Os outros estados ou cidades, seja o que for, deveriam seguir o exemplo e prestigiar o nosso trabalho”, afirmou Karla.

A estrutura dos clubes para o futebol feminino também são diferentes do futebol masculino. O Santos FC é um dos poucos clubes que oferecem a mesma estrutura dos homens para as mulheres. Normalmente, a estrutura dos clubes para as mulheres são precárias, seja na alimentação, transporte, alojamento e muito mais. Entretanto, muitas equipes também não pagam salário às jogadoras, sendo assim, geralmente, só contribuem com o deslocamento para os treinos e jogos.

“A estrutura do Santos em si é igual ao masculino, porém, requer alguns cuidados por sermos mulheres. Em muitos clubes a estrutura é bem diferente. A maioria não tem ônibus, alimentação não é 100% e o alojamento não é tão legal”, contou Jaqueline.

O Brasil ainda precisa evoluir bastante no futebol feminino. Ainda estamos longe de sermos referência na modalidade. Usaremos como exemplo os Estados Unidos, que realmente apoia as mulheres no futebol. No país norte-americano, a liga principal é a National Premier Soccer League (NWSL), que foi fundada após o fim da Women’s Professional Soccer (WPS), que existiu desde 2007 até 2012. Atualmente, 8 jogadoras brasileiras atuam na NWSL, entre elas: Rosana (North Carolina Courage), Debinha (North Carolina Courage), Poliana (Houston Dash), Andressinha (Houston Dash), Bruna Benites (Houston Dash), Mônica (Orlando Pride), Camilinha (Orlando Pride) e Marta (Orlando Pride). O maior o público presente em um estádio na NWSL foi de aproximadamente 23 mil pessoas na partida entre Orlando Pride e Houston Dash no Orlando Citrus Bowl em 2016. Embora o número seja abaixo do que o recorde brasileiro, os estádios dificilmente ficam vazios.

Outra curiosidade do futebol feminino estadunidense, mas que o Brasil poderia seguir facilmente, é como são formadas as atletas no país. Nos Estados Unidos, não existe uma liga correspondente à uma segunda divisão, pois as ligas que formam as jogadoras para o principal torneio do país são as ligas universitárias. Juntando todas as ligas universitárias, ao todo, existem mais de 1500 equipes em atividade oferecendo às atletas uma estrutura de excelente qualidade.

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Crédito da foto: (Orlando Pride)

“Nos Estados Unidos, o futebol também é para as mulheres. Isto é implantado desde a base da educação. No ‘País do Futebol’, o nosso Brasil, infelizmente, muitos ainda julgam que o futebol é um esporte somente para homens. O futebol feminino precisa profissionalizar-se de vez no Brasil. Em todos os aspectos. Seja em termos organizacional, como a questão do calendário, e até mesmo, o reconhecimento da profissão”, disse Camilinha.

Em 2016, o Rio de Janeiro sediou os Jogos Olímpicos. Sendo assim, a sexta edição do futebol feminino nas Olimpíadas. Todas as partidas foram realizadas em 7 estádios de 6 cidades espalhadas pelo Brasil, entre elas: Rio de Janeiro (Maracanã e Engenhão), Brasília (Mané Garrincha), Belo Horizonte (Mineirão), Manaus (Arena da Amazônia), Salvador (Arena Fonte Nova) e São Paulo (Arena Corinthians). A partida com maior público foi entre Brasil e Suécia com cerca de 70 mil torcedores presentes no Maracanã. Já o jogo com menor público foi entre Estados Unidos e França com aproximadamente 11 mil pessoas no Mineirão.

“Antes das Olimpíadas, não tínhamos o reconhecimento que merecíamos. Após, tivemos um período de engajamento e estávamos a passos largos para o que imaginávamos como mundo ideal, mas aquela euforia já esfriou um pouco. Porém, estamos evoluindo. Afinal, o Campeonato Brasileiro desse ano ficou mais encorpado, mas ainda precisamos resolver a questão calendário”, comentou Camilinha.

Podemos concluir que o futebol feminino brasileiro ainda precisa de muito apoio, tanto por parte dos dirigentes quanto por parte dos torcedores. O Brasil ainda está atrás de muitos países, quando o assunto é mulheres praticando futebol. Os campeonatos precisam de mais investimentos, os clubes precisam profissionalizar-se, a CBF precisa se organizar melhor. O futebol feminino não existe somente de 4 em 4 anos, durante as Olimpíadas. Pelo contrário, existe semanalmente durante os campeonatos nacionais e estaduais. Então, quer começar a ajudar a modalidade? Faça a sua parte. Vá aos jogos nos estádios, seja do seu time do coração ou da equipe que você simpatize, afinal, muitos jogos são gratuitos.

 

 

 

 

 

 

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