Não é apenas futebol

O futebol mundial está de luto

Ontem (terça-feira, 29) foi um dia em que se faltou palavras, mas não faltou comoção. Foi um dia em que muitos amantes do futebol ficaram mais órfãos. Um dia que não será esquecido, um dia que será lembrado como uma tragédia que interrompeu um sonho, não só de um time, mas sim de todos aqueles que torciam pela Chapecoense.

No momento em que fiquei sabendo da notícia da queda do avião, em que a equipe da Chapecoense e equipe de imprensa que iria cobrir o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana, minha primeira reação foi de choque e de não acreditar que o acidente teria acontecido. Sei que muitos tiveram a mesma reação. A ficha demorou a cair.

Foi duro encarar o dia. Informações sobre o acidente vinham chegando de forma sistemática, porém sem a devida veracidade. Juntando isso a angústia de parentes, dos jogadores e equipe de imprensa, o dia se tornava cada vez mais difícil e insustentável. Dos 23 jogadores que compunham a equipe da Chape, apenas três sobreviveram. Dos 21 integrantes da equipe de imprensa apenas um sobreviveu. Mesmo com tantas notícias ruins, a solidariedade, o apoio dos clubes e as homenagens à Chape foram nos confortando e assim tirando um pouco da dor e mostrando a todos que ainda existem seres humanos aqui na terra.

Com a globalização e o avanço da internet muitos clubes e torcidas do mundo inteiro se solidarizaram com a tragédia da Chape. Muitos fizeram homenagens incríveis. O que dizer do minuto de silêncio e o canto You’ll Never Walk Alone no jogo entre Liverpool e Leeds? Do minuto de silêncio do jogo entre Torino e Pisa? Algo indescritível. Vale lembrar que em 1949 o Torino passou por uma tragédia similar.

O que dizer dos minutos de silêncio antes dos treinamentos de Real Madrid, Barcelona e Chelsea. Das mensagens de força e superação feitas pelo Twitter por outros grandes clubes da Europa, como PSG, Atlético de Madrid, Manchester United, Chelsea, Manchester City entre outros mais e as homenagens e a disponibilidade de ajuda com jogadores por parte dos clubes brasileiros e latino americanos, isso é algo extraordinário. Tudo isso não é apenas futebol.

E o que dizer da iniciativa do Atlético Nacional em pedir a Commenbol para que o título da Sul-Americana fosse dado à Chapecoense é algo de se tirar o chapéu e reconhecer que um clube pode ser gigante, só com as suas atitudes. Da torcida do Atlético Nacional que saiu às ruas e gritou o nome da Chapecoense, são homenagens que vão ficar na história.

A comoção mundial foi tão grande que homenagens em monumentos históricos e turísticos de todo mundo, ficaram marcadas com tons de verde. Torre Eifell em Paris, Torre Colpatria em Bogotá na Colômbia, Obelisco em Buenos Aires e o nosso Cristo Redentor no Rio de Janeiro foram iluminados de verde em referência as cores da Chape.

Além de monumentos, estádios de futebol fizeram a sua parte. Estádio de Wembley, Allianz Arena, Arena Grêmio e Beira Rio também fizeram suas homenagens a Chape. Até uma homenagem de quem menos esperava aconteceu. A Banda Guns N’ Roses em sua página no Facebook fez um vídeo com a música Knockin’ On Heaven’s Door (Batendo na Porta do Céu) homenageando a Chape. Porém dentre tantas homenagens, uma em especial foi com toda a certeza que emocionou todos nós, a torcida da Chape na Arena Condá.

Era o fim da tarde, e vários torcedores da Chape foram até a Arena Condá. A casa da Chape foi tomada por centenas de torcedores que com muita dor e tristeza foram ao lugar em que lhe deram mais alegrias do que tristezas. Não teve como não se emocionar com todos os torcedores gritando é campeão, é campeão!!! Gritar a escalação com o nome dos jogadores, mesmo sabendo que eles não entrarão mais em campo, isso não tem preço.

A dor desses torcedores, de familiares dos jogadores e da equipe de imprensa e de todos os amantes de futebol, vai demorar a passar, mas o tempo é o melhor remédio para isso. O dia não vai ser esquecido, homenagens irão acontecer e esse time sempre será lembrado com boas recordações. Será lembrado como um time que perseguiu os seus sonhos, e conquistou muitos, porém uma fatalidade acabou com uma história tão linda. Entretanto a vida segue, vamos levar vários dias para contornar tudo que está acontecendo. Porém, passando as lamentações, o futuro da Chape deve ser prioridade.

Nesse momento muitos torcedores não querem ver um jogo de futebol do seu time, mas com o tempo a vontade de ver um time que já venceu tanto, vai ser restabelecido. Todas as ajudas a Chape desde ontem serão bem vindas. Seja com ações dos clubes com empréstimos gratuitos de jogadores a Chape, bem como a ajuda dos torcedores lotando a Arena Condá apoiando os jogadores que estarão ali representando a Chapecoense.

Além da ajuda a Chape, a ajuda às famílias dos jogadores também será primordial, basta querer. Sei que o dinheiro não vai substituir a dor e a falta dos jogadores que estavam naquele avião, mas será importante que os clubes achem uma solução para isso, uma vez que muitos dos jogadores que compunham o elenco da Chape ainda estavam em busca da independência financeira.

Nesse momento a Chape precisa de uma estruturação, formando um novo time e passando por um planejamento para as competições do ano que vem. Os times brasileiros serão fundamentais para que a Chape seja reerguida de forma digna. A solidariedade mostrada ontem pela maioria dos clubes brasileiros não devem ser colocadas apenas em palavras, mas sim em iniciativas e coloca-las em prática. Se isso acontecer, a Chape com uma administração autossustentável vai conseguir se reerguer do zero e mais uma vez trilhar uma bonita história, seja ela no futebol brasileiro e mundial. E todos nós vamos torcer por isso.

Tudo o que eu falei nesse texto, mostra que o futebol não é apenas um jogo. As rivalidades foram deixadas de lado e todos nos unimos em volta de uma mesma dor. A paixão pelo futebol e a solidariedade humana mais uma vez falaram mais alto, seja no Brasil, como no resto do mundo. Isso demonstra que o futebol vai além das quatro linhas, não é apenas futebol.

Por fim quero me solidarizar com os companheiros de imprensa, pois sou um jornalista que como eles, ama os esportes. Sei que as mesmas dores dos familiares desses profissionais são as mesmas que as nossas. Vai ser difícil encarar as suas ausências seja com as narrações com muitas emoções de Deva Pascovicci, com excelentes reportagens de Victorino Chermont, dos comentários precisos de Mario Sérgio e Paulo Júlio Clement.

Dos profissionais de rádio que não terão mais suas vozes entoadas nas ondas do rádio, dos profissionais de outras emissoras de televisão, de outros sites de esporte em geral, enfim, de todos os profissionais em comunicação, todos serão lembrados por nós da categoria que arrisca suas vidas para trazer informações e as emoções dos esporte até vocês.

Enfim a vida segue, e temos que voltar a dura realidade. Temos que aceitar que não teremos o prazer de a Chape ser campeã dentro de campo, porém isso não foi possível. Mesmo assim, jogadores, comissão técnica e administrativa, dos colegas de imprensa e de todos os outros que estavam no avião conseguiram ser nossos campeões, pois foram em busca dos seus sonhos, mesmo que isso lhe custassem às vidas. Agora é tocar o barco e seguir em frente e dizer: #SomosTodosChapecoense e #ForçaChape.

http://www.camisasdeclubes.com/
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Igor Castro

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