Como o futebol foi afetado pela ditadura pinochetista

 Como o futebol foi afetado pela ditadura pinochetista

Pinochet

O Estádio Nacional Julio Martinez Pradanos foi utilizado na ditadura Pinochet

Foto: Reprodução/footure – Legenda: área preservada no estádio desde os tempos de ditadura Pinoche

Os estádios de futebol são templos sagrados, locais que devem ser respeitados, lugares que levam alguns amantes do futebol ao estado êxtase e outros à tristeza, sejam nos triunfos ou nas derrotas. Porém, Pinochet utilizou o Estádio Nacional, o maior  em território chileno, como local de repressão e tortura a presos políticos.

Entre os meses de setembro e novembro de 1973, cerca de 40 mil pessoas passaram pelo Estádio não para festejar, mas para sofrer e suprir desejos sanguinários do ditador. Estima-se que 400 pessoas foram mortas a mando de Pinochet dentro do Nacional e todas as outras estiveram sob regime de terror psicológico. Segundo o ex-jornalista Alberto Gamboa, que foi torturado no estádio, enquanto os interrogatórios aconteciam nos camarotes do Estádio, os militares disparavam para cima com suas armas com o único objetivo de simular assassinatos.

O Nacional recebeu uma reforma no ano de 2010, na reforma foi preservada a Escotilla 8, que hoje carrega os dizeres: “Un pueblo sin memoria es un pueblo sin futuro”, sendo traduzido por, “Um povo sem memória é um povo sem futuro”, como uma maneira de nunca esquecer as feridas que o regime pinochetista trouxe à população chilena.

Um grande expoente da cultura chilena fora torturado e assassinado no Nacional dia 16 de setembro de 1973, 5 dias após o início da ditadura. O artista e professor, Victor Jara representava uma geração de artistas das canções de protestos. Dentre elas estava El Derecho de Vivir en Paz, canção de apoio ao Vietnã que vivia um contexto de guerra. Esta canção se tornou símbolo de resistência e até os dias de hoje é utilizada como representação política.

El derecho de vivir
Poeta Ho Chi Mi
Que golpea de Vietnam
A toda la humanidad
Ningún cañón borrará
El surco de tu arrozal
El derecho de vivir en paz

Chile x URSS: O boicote soviético

O esporte fez com que os horrores que aconteciam no Estádio fossem paralisados e por ironia dos deuses do futebol, justamente por causa de um jogo contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, país que vivia um período político de oposição ao Chile e que as pessoas que detinham pensamentos semelhantes ao do país estavam sendo torturadas e mortas no Nacional.

O jogo valia para a repescagem da Copa do Mundo de 1974 e seria decidido em duas partidas, a primeira em território soviético, que terminou em um empate sem gols, e o segundo jogo deveria acontecer no Estádio Nacional, no dia 21 de novembro de 1973, porém a URSS tomou uma decisão como forma de protesto: não aceitou jogar em um local que há poucos dias foi utilizado como palco de terror e execução.

Tal boicote não foi aceito pela entidade máxima do futebol, a FIFA, e então, uma cena um tanto quanto patética foi presenciada pelos torcedores que foram ao Nacional prestigiar a partida. Em um jogo de cerca de 30 segundos, com apenas um time em campo, o capitão chileno, Chamaco, marcou um gol e o Chile venceu um adversário inexistente. Após tal gol, o árbitro se viu obrigado a finalizar o jogo e com este resultado o Chile estava classificado para a copa do mundo de 1974, que ocorreu em território da Alemanha Ocidental.

La rivolta
Legenda: Momento da finalização de Chamaco contra adversário fanstasma Foto: Reprodução/Paesesud

Caszely: Um caso de resistência

Pouco antes da equipe chilena partir para a Alemanha, os jogadores foram obrigados a visitar o palácio La Moneda – sede do governo – e então Carlos Humberto Caszely Garrido, atacante do Colo-Colo na época, mais uma vez pôde mostrar sua oposição ao regime de Pinochet.

Caszely era um grande apoiador de Allende – presidente eleito que morreu no dia do golpe militar que pôs Augusto Pinochet no poder – e já havia tido papel importante para atrasar do golpe: o Colo-Colo vivia uma grande fase e suas vitórias faziam com que os tanques de Pinochet recuassem e adiassem o golpe.

O centroavante diz que os jogadores tiveram que ir ao La Moneda para cumprimentar o ditador e ele se negou, virando um símbolo da resistência. Por ser um grande jogador do clube Colo-Colo e essencial na seleção chilena, nada podia ser feito contra ele, porém sua mãe foi brutalmente torturada, e após o ocorrido, Caszely se manteve em posição de resistência ao regime, que acabou no ano de 1990 após vitória da população no plebiscito de 1988 com a campanha do No.

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Matheus Bastos

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