Carta aberta aos torcedores – Mesut Özil
Özil foi alvo de xenofobia após a Copa do Mundo na Rússia
Há poucos dias, o meia alemão Mesut Özil postou em suas redes sociais uma carta aberta principalmente aos torcedores da seleção alemã. No documento, o camisa 11 do Arsenal descreve como foram os últimos meses em sua vida, com diversos acontecimentos antes, durante e após a Copa do Mundo 2018 sediada na Rússia. Özil descreve casos de xenofobia de diversas origens (torcedores, oficiais e até o presidente da federação futebolística do país), principalmente após sua foto com o presidente turco e o fracasso alemão na Copa.
Muitos casos de xenofobia já foram registrados no esporte, Romelu Lukaku, atacante belga do Manchester United, já falou para o excelente site The Players Tribune sobre como o tratam por ter origem congolesa. Outro exemplo dessa condenável situação atualmente é de Karim Benzema que é francês com origens árabes. Percebam que a crítica não é ao futebol e sua globalização, mas sim aos que não aceitam e atacam pessoas de diferentes origens. A globalização crescente é um dos meios de combater a xenofobia, e no futebol não é diferente.
Alguns parágrafos do documento escrito por Özil:
“Assim como muitas pessoas, meus traços ancestrais vêm de mais de um país. Enquanto eu cresci na Alemanha, minha família é baseada na Turquia. Durante minha infância, minha mãe me ensinou a sempre ser respeitoso e nunca esquecer de onde eu vim e esses são valores que eu penso até hoje”
“Em maio, me encontrei com o presidente Erdogan (atual presidente da Turquia), nos conhecemos em 2010 […] desde então, nossos caminhos se cruzaram diversas vezes. Estou ciente que a nossa foto causou uma resposta gigante na mídia alemã, e apesar de me chamarem de enganador ou mentiroso, nossa foto não teve intenções políticas”
“Ainda que a imprensa alemã colocou como algo diferente, a verdade é que não me encontrar com o presidente seria desrespeitoso às raízes de meus ancestrais, que eu sei que estariam orgulhosos de onde estou hoje. Para mim, não importava quem era o presidente, importava que era o presidente. Alguns jornais alemães estão usando meu passado e minha foto com o presidente Erdogan como propaganda para futuras eleições. Eles não criticaram minhas performances, nem a performance do time, apenas minha ascendência turca”
“O problema que mais me frustrou nos últimos meses foi o tratamento da DFB (Federação Alemã de Futebol) e em particular o presidente da DFB Reinhard Grindel. Enquanto eu tentei explicar para Grindel minha herança e minhas razões por trás da foto, ele estava mais interessado em falar sobre suas visões políticas e depreciar minha opinião. Durante o tempo de preparação, também me encontrei com o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, que, diferente de Grindel, estava interessado em saber da minha história” Grindel é colocado como o pior presidente da DFB nos últimos 50 anos para o ex-diretor de imprensa da federação Harald Stenger.
“Recentemente, ele, publicamente, falou que eu deveria explicar minhas ações e colocou em mim a culpa pelo fracasso na Rússia, apesar de termos concordado em acabar essa discussão antes do Mundial. Agora, não estou falando por Grindel, estou falando porque quero. Eu sei que ele me queria fora do time após a foto, porém Joachim Löw me apoiou. Para Grindel e seus apoiadores, sou alemão quando ganhamos, mas imigrante quando perdemos. Suas opiniões podem sem encontradas em outros lugares, por exemplo, Werner Steer (chefe do teatro alemão) me falou para ir embora para Anatolia (local na Turquia que muitos imigrantes são baseados)”
“Para você, Reinhard Grindel, estou desapontado mas não surpreso por suas ações. Em 2004, quando ainda era membro do parlamento alemão, disse que “multiculturismo é um mito e uma longa mentira” enquanto votou contra a legislação para dupla-nacionalidade além de dizer que a cultura islâmica está se fixando em muitas cidades alemãs. Isso é imperdoável e inesquecível”
“É com muito pesar e muita consideração que pelos motivos recentes, não jogarei mais pela Alemanha enquanto ter esse sentimento de racismo e desrespeito. Eu estava acostumado em usar a camisa alemã com felicidade e orgulho, mas não mais. Quando oficiais da DFB me tratam desse jeito, desrespeitando minhas raízes, já é o bastante. Não é pra isso que jogo futebol, mas não ficarei esperando sem fazer nada. Racismo nunca deveria ser aceitado.
Mesut Özil”
Özil sai da seleção com 92 jogos, 23 gols, 33 assistências (recorde da Alemanha), o terceiro lugar na Copa de 2010 e o título da Copa do Mundo de 2018.
Mensagens abertas como essa de Mesut, ou a de Benzema e Lukaku são extremamente necessárias. Em tempos de crescente imigração, são essas situações que podem instigar as mudanças que precisamos. Racismo, xenofobia e outros diversos preconceitos têm de ser combatidos.
O texto completo e original você pode encontrar nas redes sociais do atleta, porém apenas em inglês.