Anderson Moreira: entrevista exclusiva com o preparador de goleiros do Avaí
Foto: Leandro Boeira/ Avaí F.C.
“Não foi um início fácil, era o único preparador de goleiros do clube, trabalhava com sub-15 e sub-17″, comentou o preparador
Conheça Anderson Moreira, preparador de goleiros com 13 anos de Avaí. O profissional falou sobre a sua carreira, experiência, dificuldades, chegada ao Avaí, categorias de base, a evolução da profissão e da posição de goleiro. Confira abaixo!
Com dezoito anos você começou a trabalhar em um clube de formação de atletas, como foi a primeira experiência como preparador de goleiros?
Minha primeira experiência foi no ASDC Triunfo, um clube de formação de atletas aqui de Florianópolis. Não foi um início fácil, era o único preparador de goleiros do clube, trabalhava com sub-15 e sub-17. Na época, em 2009, não se falava tanto de treinamento de goleiros, não tinha tanta informação quanto hoje. Tentei contato com alguns profissionais da área e não tive muito retorno, assim buscava na internet vídeos de treinamentos de goleiros e os reproduzia, aos poucos fui entendendo as necessidades dos goleiros e ajustando os treinos para que eles tivessem um melhor desempenho. Foi um processo empírico de tentativa, erro e acerto.
Você recebeu o convite para trabalhar nas categorias de base do Avaí, um clube grande, nos conte como foi esse momento de sua vida.
Foi uma oportunidade muito boa. Quando vim para o Avaí já não era mais o único preparador de goleiros do clube. Lembro que fui muito bem recebido e tive a chance de conhecer ótimos profissionais como Nilsão, André Croda e Sandro Daros. Acompanhava o treino deles, trocava informações e assim fui montando minha linha de trabalho no decorrer dos anos. Nesse período tive a oportunidade de vivenciar todas as categorias de base do clube e essa vivência acrescentou muito para o meu desenvolvimento pessoal e profissional.
Quais os cursos que você fez para exercer a profissão de preparador de goleiros?
Minha formação base é a Educação Física. Com passar dos anos procurei identificar em quais áreas eu precisava me qualificar para continuar evoluindo. Baseado nisso, fiz pós graduação em Treinamento Físico: Biomecânica metodologia e prática, além de cursos voltado para Força e Potência, Licença da CBF de preparador de goleiros e Licenças C e B de treinador.
Quais dicas você daria para quem quer iniciar na profissão?
A primeira dica é pensar o treinamento de goleiros baseado no jogo, tentar ser o mais específico possível para atender as necessidades do goleiro. Na minha opinião, a defesa, seja ela de meta ou espaço, é a última ação do goleiro. Antes disso existem uma série de fatores, tais como: posicionamento, ajuste corporal, leitura do adversário, compactações, enfim. São ajustes que, quando bem treinados, auxiliam o goleiro a ter uma melhor performance.
Outra dica é com relação à experiência. Tempo, para mim, não está ligado a experiência. Penso que um preparador de goleiros que faz o mesmo treino há 10 anos não é tão experiente quanto outro que tem menos tempo de profissão, porém busca conhecimentos, ajusta sua linha de trabalho com frequência, faz o melhor com as condições que tem para o desenvolvimento do goleiro. A experiência é algo constante, a cada temporada temos que melhorar. Não podemos cobrar evolução dos nossos goleiros se não entregamos o melhor para evolução deles.
Há 13 anos você chegava no Avaí para trabalhar nas categorias de base, hoje, está no profissional. Quais as principais diferenças entre as duas categorias?
Na base o foco principal é a formação, respeitando os períodos sensíveis de aprendizagem. Aqui no Avaí criamos um currículo de formação contemplando os conteúdos físicos, técnicos e comportamentais por categoria. O objetivo principal é formar um goleiro dentro do perfil que desejamos para o clube.
No profissional o foco está na performance, são atletas mais experientes com bom nível físico e técnico. Procuramos identificar as qualidades e dificuldades do goleiro, a partir disso é criado um planejamento individual com objetivo de desenvolver o atleta para que esteja no seu melhor nível e possa estar preparado para as oportunidades.
O preparador de goleiros também é um gestor. Normalmente são quatro, cinco atletas que treinam juntos, mas só um joga. Como você trabalha essa parte?
Acredito que a melhor gestão que um preparador de goleiro pode ter é sempre que possível proporcionar condição de treino igual do primeiro ao quarto goleiro. Desde treinos técnicos aos trabalhos com grupo procuro reveza-los de maneira igualitária para que todos tenham condições de estar preparados nos diversos aspectos que o jogo exige. O goleiro quer evoluir independente da situação que ele se encontra no momento, se é 1º,2º,3º ou 4º. Você ajudando ele nesse processo tenho certeza que estimula a competitividade entre eles e fortalece a equipe de goleiros que é representada pelo titular no momento.
Além disso conto com meu parceiro de trabalho Flávio Kretzer, que foi um goleiro profissional de alto nível e ajuda muito no dia a dia a entender o que cada goleiro está passando. Em casos pontuais nós conversamos com o atleta para compreender as necessidades e tentar ajudar da melhor maneira possível.
Como você vê a evolução da posição em relação aos pés? Como é feito esse trabalho atualmente?
O futebol vem evoluindo constantemente e o goleiro tem acompanhado essa evolução. O jogo com os pés hoje em dia é algo essencial para o goleiro jogar em alto nível. Com relação ao trabalho desenvolvido, procuramos entender como o treinador da equipe utiliza o goleiro com os pés, alguns gostam que o goleiro seja mais conservador, outros preferem que arrisque um pouco mais, a partir disso planejamos os treinos buscando aproximar o máximo possível do que acontece no jogo, para melhorar o jogo ofensivo do goleiro.
Talvez a posição de goleiro seja a que mais evoluiu no futebol. Podemos destacar esse ponto por qual motivo?
Acredito que o motivo dessa evolução são as novas tendências do treinamento de goleiros. Antigamente o goleiro ficava isolado, com o preparador de goleiros trabalhando somente de maneira analítica, priorizando a parte física e técnica.
Hoje em dia o goleiro está incluído diariamente nos trabalhos com o grupo, é estimulado a resolver os problemas do jogo tanto no trabalho do preparador de goleiros quanto no trabalho do treinador. Além disso, vejo uma evolução muito grande no desenvolvimento das capacidades físicas e análise de desempenho voltado para as necessidades do goleiro (correções de treinos e jogos e análises do adversário).