A importância dos assistentes sociais no futebol
São apenas 42 clubes e a Federação Pernambucana que possuem ao menos um assistente social no quadro de funcionários. Nas seleções brasileiras das categorias de base, não há nenhum
Entender a importância dos assistentes sociais no futebol fazendo parte da comissão técnica ainda é um tabu a ser desconstruído aos poucos com a mudança de pensamento – além dos gramados – dos clubes e suas respectivas diretorias. A interação dos assistentes com a família e os atletas é de suma importância. Na maioria das vezes, esses atletas não tem a base familiar estável, pelas dificuldades internas e externas. Os pais e a família acabam não sabendo lidar com algumas questões quando iniciada a carreira de jogador e é a partir dai que entra a importância dos assistentes sociais na comissão técnica dos clubes, principalmente nas categorias de base. Além de fornecer o suporte para os parentes dos jogadores já renomados, mas que se mudam para outros estados num curto tempo, bagunçando o cotidiano da família.
Em 1999, o técnico Luxemburgo contratado pelo Santos, pediu para que a diretoria preenchesse essa lacuna no clube. Entre os grandes clubes de São Paulo, Santos e Palmeiras são os únicos clubes que possuem a ajuda dos assistentes sociais para cada categoria de base.
Uma explicação pode ser que este é o único integrante da comissão técnica que não tem como prioridade o desempenho esportivo do garoto da base ou do atleta profissional. Jogar bem ou não é uma consequência.
“O nosso papel é garantir o direito da criança e do adolescente. É entender que esse jovem está no processo de formação esportiva. Se a família dele e o clube não tiverem essa noção, vão prejudicá-lo. Nossa função é garantir que ele vá à escola, ver se está indo visitar a família, se há negligência familiar”, afirma o assistente social do Santos, Fernando Trutys Fernandes.
Em entrevista para a Folha de São Paulo, funcionários dos clubes de São Paulo e Rio de Janeiro disseram que ainda são vistos com olhares de desconfiança perante os seus trabalhos dentro das agremiações por conta da função não ser apenas esportiva.
“O atleta não tem o discernimento. Os pais muitas vezes acabam por pressionar a criança, cobrar muito. É o caso clássico de ter o futebol como arrimo, como esperança da família de fugir de uma situação socioeconômica”, complementa Fernandes, um dos assistentes que afirmam receber o apoio de seu clube (Santos) para desenvolver o trabalho.
O assistente social tem o papel de cuidar do bem-estar do atleta, mesmo que esteja no elenco profissional. Se está na base, tem como guias as legislações, casos, do Estatuto da Criança e do Adolescente e o artigo 227 a Constituição Federal, que fala dos direitos da criança, adolescente e jovem. Uma das reivindicações do Seminário Nacional do Serviço Social no Mundo do Futebol, realizado em outubro, em São Paulo, foi a mudança da Lei Pelé para que os clubes sejam obrigados a ter pelo menos um assistente social.
Dos 42 profissionais contratados por equipes, a maioria (20) está no Sudeste. São nove no Sul, cinco no Nordeste e dois no Centro-Oeste.
Apenas nas categorias de base dos clubes inscritos na Federação Paulista de Futebol estão 2.600 jovens.
Foto destaque: Lucas Figueiredo/CBF