Diretores da Kick Off Sports falam sobre o futebol brasileiro
Michel Teixeira e Gustavo Guarizzo se conheceram na faculdade de Economia da Universidade Mackenzie, mas em 2016 resolveram trocar o mercado financeiro pelo futebol.
Os diretores falaram com o nosso portal, onde foi abordado temas como o futebol brasileiro em geral e sobre agenciamento de atletas. Confira.
Foi uma escolha muito difícil trocar a Economia pelo Futebol?
Michel Teixeira: “Na verdade, quando entrei para a Kick Off Sports, não troquei a Economia, pelo contrário, a análise da produção, da distribuição e do consumo de bens e serviços continuam cada vez mais intensas no meu cotidiano, só que agora, o foco é o futebol.
O mercado de agenciamento de jogadores – que fazemos questão de chamar de mercado de “gestão de carreira” – envolve indivíduos e escolhas, logo, envolve conceitos fundamentais da Ciência Econômica”.
Por quê o futebol?
Michel Teixeira: “Diria que por três motivos principais: paixão, necessidade do mercado e oportunidade de negócio. Paixão porque desde que me entendo por gente sou apaixonado pelo futebol. Necessidade do mercado porque estruturamos uma empresa que oferece serviços fundamentais à evolução dos atletas (assessoria financeira, condicionamento físico, assessoria médica, assessoria jurídica e assessoria de imprensa). E oportunidade de negócio justamente por não conhecermos nenhuma empresa com expertise para oferecer todos esses serviços”.
Em poucas palavras, como vocês enxergam o mercado do futebol brasileiro?
Gustavo Guarizzo: “No geral, acredito que seja um mercado carente, principalmente de profissionalismo e transparência. Além disso, por mais que o mercado do futebol nacional envolva muito dinheiro, grande parte das transações está quase sempre na mão dos mesmos players. No começo das atividades da nossa empresa, isso foi uma barreira de entrada que só conseguimos quebrar com muito trabalho e transparência. Curiosamente, em muitas situações, o mercado do futebol possui valores invertidos. Perdi as contas de quantas vezes passamos vergonha e fomos motivos de chacota por não pagarmos “propinas” a clubes corruptos para empregarmos jogadores”.
O que faz com que alguns clubes peçam dinheiro para empregar jogadores?
Gustavo Guarizzo: “Depende. Há diretores de clubes que pedem dinheiro porque a instituição está quebrada e não tem condições de pagar o salário dos jogadores. Mas há também aqueles que pedem dinheiro simplesmente para dar uma alavancada na renda mensal da família (risos). No entanto, uma coisa deve estar clara: as mazelas do futebol não se resumem a alguns clubes. Existem, também, muitos empresários e jogadores corruptos”.
Jogadores corruptos?
Michel Teixeira: “Sim, jogadores corruptos!. A corrupção do futebol se manifesta de várias formas, em instituições e indivíduos diferentes. No Brasil, grande parte das pessoas tem dificuldade de enxergar o desvio privado como corrupção. Nós, brasileiros, nos preocupamos quase que exclusivamente com a corrupção do ambiente público e esquecemos que também somos corruptos quando furamos a fila, não damos uma nota fiscal, roubamos a TV a cabo, batemos o ponto pro colega, etc. No futebol é a mesma coisa, há pequenas ações que, por menores que sejam, não deixam de ser corruptas”.
Vocês poderiam me dar um exemplo de uma ação corrupta de um jogador de futebol?
Gustavo: ” Existem atletas que assinam contrato com agentes com intuito de explorá-los financeiramente”.
Michel: “Tem atleta que ganha mais de 200 mil reais por mês e ainda quer empurrar pro agente o boleto do colégio dos filhos (risos). Brincadeiras à parte, não é nosso intuito julgar ninguém, mas a verdade é que o mercado futebol, assim como outros mercados, também tem seu lado obscuro. Além disso, por ser uma paixão nacional, tudo que envolve o futebol tem muito mais repercussão, e isso vale pras notícias boas e ruins.