Marcinho do Botafogo fala sobre a sua carreira e o título antes do jogo contra o Vasco

Lateral que ganhou o seu primeiro título profissional neste ano conta sobre a sua trajetória no futebol

(Foto: João Pedro Lima)

Às vésperas do clássico contra o Vasco pelo Campeonato Brasileiro, o lateral direito do Botafogo Marcinho à respeito da sua carreira.

O jogador logo quando começou a se destacar no profissional sofreu uma lesão em abril de 2017 e ficou parado por 10 meses. Em sua volta aos gramados, em fevereiro deste ano, Marcinho assumiu a posição de titular e foi campeão carioca no time alvinegro.

Ídolo no futebol

Cristiano Ronaldo, pois tem muita dedicação, saúde, força, além da qualidade técnica. Esse cara para mim é um ídolo dentro e fora de campo.

Ídolo na posição de lateral direito

Acompanhei muito dois laterais no auge aqui no Rio de Janeiro, que foram o Wagner Diniz e o Léo Moura, então eu levo muito esses dois. Quem jogava muito e ainda joga é o Daniel Alves.

Jogo inesquecível

Não pela proporção, mas pelo momento e pelo o que significou para mim. Foi o meu primeiro jogo depois que voltei da lesão. Fiquei quase um ano parado e esse jogo marcou muito a minha vida.

Gol inesquecível

Estou há um tempo sem fazer gol, mas tem um gol que fiz numa semifinal de campeonato carioca contra o Madureira de quase 40 metros de distância. O jogo já estava no finalzinho, jogo empatado, fiz o gol e nós conseguimos vencer o jogo.

Outra profissão

Queria estudar economia. Gosto muito de dinheiro e é uma forma diferente de você ganhar, não digo fácil, mas rápido se você for inteligente e souber trabalhar com isso.

Sonhos

Realizei um, que foi esse ano. Fui campeão no Maracanã lotado, pude até bater um pênalti e veio o meu primeiro título como profissional. E os outros são ir para a Europa e servir a Seleção Brasileira. São os sonhos que tenho em mente e vou em busca disso.

Família

Mesmo se não gostasse, teria que saber um pouco sobre futebol. Meu pai é jogador, meus dois tios são treinadores, meus dois primos trabalham com futebol até hoje, um deles é analista de desempenho no Palmeiras. Isso juntou com o que gostei. É a minha paixão, adoro futebol, tenho alegria em fazer isso e minha família sempre me apoiou.

Meu pai dizia ‘você tem que ser feliz, fazer o que quer fazer’, só que ele disse para mim ‘não vou te ajudar em nada, você vai conseguir sozinho, com as suas próprias pernas, você não vai depender dos seus tios, você não vai depender de nada’ e digo que até hoje não precisei deles para nada.

Início na base

Joguei no Flamengo, quatro anos e meio. Quem me levou foi o professor Carlinhos, um amigo do meu pai que até revelou o Adriano, imperador. Mas por questões técnicas e físicas fui dispensado. Seis ou sete meses depois fui para o Botafogo, fiz testes e passei. Era atacante na época e hoje deu essa reviravolta toda e estou no profissional e na lateral.

Transição de posição

A adaptação foi muito por vontade minha. Eu tinha muitas deficiências defensivas, mas acabou que deu certo e estou melhorando até hoje. Meu irmão mais novo era lateral desde pequeno, então via ele jogar e sempre tive a percepção de olhar várias posições.

Por ter um cruzamento bom, um amigo meu tinha falado, ‘Vê se você não se encaixa na lateral. No ataque é muito mais difícil, na lateral tem essa carência’. Acabou que um treinador, Maurício de Souza que está atualmente no Flamengo, me improvisou por necessidade mesmo. Um lateral tinha acabado de sair e o outro se machucou, e aí foi a minha vez e ele me deu total confiança.

Dificuldades na base

Um treinador que não curte muito o seu estilo de jogo. Na base tem muito disso, quando você é mais novo e acabou de subir para a categoria, ele não te utiliza muito. Meus maiores problemas na base, isso já no Botafogo, foram esses, o treinador não querer me usar, e isso não entrava na minha cabeça. Em outros momentos também você tem uma lesão, teve a mudança de posição. Mas dos males, tive o menor.

Transição da base para o profissional

Antes do título no sub-20, já estava no profissional, tinha subido por seis meses. Esse treinador que me jogou para a lateral, Maurício de Souza, me indicou para os profissionais e fiz uma pré-temporada com eles como um teste se ficaria ou não no profissional. O Ricardo Gomes, treinador do Botafogo na época, gostou muito de mim e me aproveitou no profissional.

Treinei, fiquei seis meses com eles, até que o Maurício saiu da base e entrou o Eduardo Barroca. Ele pediu para eu descer de categoria para jogar, eu ficava treinando no profissional e descia para jogar e foi quando fui campeão brasileiro.

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Título do Campeonato Brasileiro sub-20

Esse título brasileiro na categoria foi o primeiro e até hoje é o único do Botafogo. Isso diz muito do trabalho que vem sendo feito na base. O clube é muito carente na parte financeira, então conseguimos transformar esse trabalho da gestão de pessoas, até porque o Botafogo não consegue investir em infraestrutura, muito por causa das dívidas.

Esse título diz muito também sobre o que o Botafogo faz na parte de construção de atletas, investimento em jogadores. Tem até psicologia para os atletas na base e o título foi só uma coroação desse trabalho que foi feito.

Integração a base e o profissional do Botafogo

Peguei uma fase no Botafogo que até tinha integração, a gente jogava alguns jogos contra eles, mas era quase zero. Você via os caras como se fossem extra-terrestres. Era ‘olha o Seedorf, olha o fulano’, mas você não tinha contato com eles. Vivi essa mudança no projeto de comportamento do Botafogo e achei que foi super importante. Começou com Sassá, Otávio, Gegê, Jadson, Dória e o contato com a base só melhorou.

Hoje o nosso treinador, Alberto Valentim, vai assistir os jogos da base. Ele recebe o treinador da base no profissional. Nesses dias teve um treino contra o sub-17. Muitos deles já acham até normal estar com a gente. Isso é muito importante porque ajuda os jogadores. O futebol profissional é bem diferente da base. Você tem que ter esse amadurecimento e quando você pega essa mudança rápida, tem tudo para dar certo.

Lesão

Foi o período mais difícil da minha carreira, porque eu projetava um futuro naquele momento que foi interrompido por uma coisa que não tinha controle, então fiquei muito triste porque me via crescer bastante naquele momento. Mas há males que vem para o bem e hoje estou de volta, muito mais forte, seguro e confiante, valeu de aprendizado.

Desistir?

Nunca pensei em desistir, mas uma desconfiança sim. Bate uma desconfiança de você não saber como está o seu corpo, como você vai se adaptar a isso, mas desistir é bem difícil de pensar, até por causa de tudo o que passei e onde cheguei.

Tratamento da lesão

Hoje estou completamente curado, se eu te falar que não sinto dor também, estou mentindo. Esse meu joelho operado é muito mais forte do que o outro.

O Botafogo deu total apoio a mim e tem até um fisioterapeuta do clube que tem um instituto e eu fazia na fase final hora extra lá com ele. Eles foram excelentes comigo.

Volta aos gramados

É muito complicado, porque ritmo de jogo você só ganha com atuações em partidas. Não há sessão de treinos que vá te preparar para jogar 90 minutos em uma intensidade absurda. Demorou uns 3 ou 4 jogos para eu ficar 100% e não sentir cãibra.

Fisicamente estava abaixo, porque sou um cara de muita intensidade dentro de campo e isso para mim foi complicado. Mas com o apoio do Botafogo e a confiança do Alberto Valentim as coisas fluíram.

Ajuda do Alberto Valentim

Quando o Alberto chegou nós tínhamos sete dias cravados de treino e ele até brincou dizendo que tínhamos que agradecer a Deus por ter essa semana para poder arrumar o time. Tinha sido uma situação difícil, o time vinha eliminado da Copa do Brasil por um time que acho que nem divisão tinha, a Aparecidense, com todo respeito a eles.

Viemos em um momento complicado e pensei ‘esse é o meu momento’, porque ele não tinha definido time titular, nem time reserva, ele misturava todo mundo e fazia três times, pensei ‘esse é o meu momento, a minha hora e tenho que mostrar para ele que sou o melhor’. Foi isso que fiz, treinei como nunca, foi a minha melhor semana de treino na vida e ele percebeu isso, viu que era o meu momento e, dois ou três dias antes do jogo, ele veio até a mim e disse ‘você vai jogar, você tem a minha confiança, você é muito bom jogador’. Daí para frente foi só confiança e fui ganhando mais moral.

A eliminação da Copa do Brasil e da Taça Guanabara

Depois de qualquer momento ruim, tem que haver uma mudança. Sabíamos que tinha que mudar. O Alberto Valentim quando chegou sabia que tinha que mudar alguma coisa e a nossa cabeça era essa, sair daquele lugar que não era do nosso time.

Tinha que ver o nosso treinamento, muita intensidade desde o ano passado. Isso é uma marca nossa de força, intensidade, velocidade, marcação. Nesse dia da Aparecidense deixamos um pouquinho a desejar e sabíamos que tinha que mudar, e isso aconteceu.

Perda da Taça Rio

Acho até que foi boa essa derrota contra o Fluminense, não sei se tivéssemos ganho seríamos campeões carioca. Tem muitos males que vêm para o bem e a gente aprende com eles.

Ficamos mordidos com esse resultado. Não era o que esperávamos, queríamos e tínhamos trabalhado. Mas também foi bom, porque não fomos com a vantagem para jogar contra o Flamengo, isso não nos deixou acomodado e vencemos na semifinal. Às vezes você vai com uma vantagem jogar em seu estádio e isso acaba prejudicando.

Preparação para a grande final

Falei com os jogadores na semana da decisão que a pior coisa que o Vasco tinha feito era ganhar aquele jogo da forma que ganhou, com um gol no último lance. E não deu outra! Estávamos muito mordidos. Aquele não foi o resultado da partida, era um empate, no mínimo, e com aquele gol no final eu falei que o Vasco cavou a cova dele.

Isso deixou a gente mais motivado para o segundo jogo da final. Tanto que se você for ver o vídeo, está todo mundo com cãibra e a gente está no ataque, porque não podíamos perder aquele título. Era uma oportunidade única que tínhamos, fizemos aquele gol chorado do Carli no finalzinho e deu tudo certo porque éramos merecedores disso.

Gol dramático e disputa de pênaltis

Foi muito mais difícil para o Vasco se concentrar nas cobranças do que a gente. O baque foi muito grande. Eles já estavam preparados para serem campeões. Tinha mais de 50 pessoas na beira do campo para invadir e lutamos até o final. Isso tudo só nos deu mais força e nos motivou para a disputa de pênaltis.

Tive a ajuda do Alberto Valentim para bater. Ele disse “vai bater, é teu, vai se consagrar!” Falei “não posso olhar para cima”. Isso porque qualquer coisa que você vê, com a torcida do Vasco ali atrás contra você, acaba com o teu psicológico. Então fui muito forte neste ponto. Só olhei para a bola e para o gol. Treinei a vida inteira para chegar nessa hora, não tinha como eu perder. Consegui fazer o gol e foi bem legal esse momento.

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O que significou o título para você?

Foi uma coroação de um momento difícil. Voltei a ter momentos felizes e ter a coroação desse trabalho. Apesar da longa recuperação, colhi os frutos, tenho muito mais confiança para jogar e disposição física. Esse título carioca foi para tirar um peso das costas e me dar uma leveza para seguir nessa trajetória.

Projeções no Campeonato Brasileiro e Copa Sulamericana

Temos um combinado, nós vamos jogar todos os jogos para vencer como se fosse uma final, porque acho que é assim que uma equipe que quer almejar coisas grandes no brasileiro faz, todos os jogos do brasileiro vamos brigar até o final. O campeonato brasileiro é muito difícil, ainda mais para um clube que não investe tanto e não tem muito dinheiro para investir. Até times que investem muito têm dificuldades porque é um campeonato muito longo.

A Sulamericana nós temos realmente a condição de sermos campeões, pois é tiro curto, mata-a-mata. São cerca de oito jogos até a fase final e é uma oportunidade gigantesca que nós temos. A partir do momento em que formos avançando de fase, formos ganhando moral na competição, acho que a torcida vai comprar a ideia também e vai nos empurrar para esse título, que por enquanto está só no começo.

Libertadores 2017

A Libertadores é uma competição que desgasta muito. Exige muita força física, tem viagens longas e a gente como não tinha um elenco recheado, ficava bem complicado para repor peças e muita das vezes alguns jogadores não tinham condições de jogo por estarem cansados. Acho que esse golpe da Libertadores para nós pesou um pouco, porque estávamos vendo que tínhamos condições de chegar até a final, de sermos campeões. Esse foi um golpe que nos atrapalhou demais no final do brasileiro.

Próximo título que almeja

Coletivo é a Sulamericana. Individual é o melhor lateral direito do brasileiro.

Clube em que sonha em jogar

Real Madrid. Quero jogar com o meu ídolo, cruzar a bola para ele e ficar rico, o cara não erra o gol.

Brasileiro destaque no futebol internacional

Marcelo. Ele está lá mais de 10 anos e em alto nível. Marcelo é um exemplo incrível. E o Neymar, que é um gênio. Ele se adaptou ao futebol europeu de uma forma que é uma brincadeira e foi campeão em dois anos de uma Champions League, é um cara que vale a pena de ser lembrado nesse quesito de adaptação e sucesso lá fora.

Brasil na Copa do Mundo

Minha expectativa é o título. Acho que os nossos maiores adversários são França, Alemanha e Argentina.

Convocados para a lateral direita

Tite fez o correto em levar o Danilo e o Fágner. São dois caras que já vem há um bom tempo num alto nível de futebol.

Fase de garçom

É bom essa fase. Quero alcançar esse patamar de garçom já que não chego muito no gol. O que posso fazer é dar assistências e espero que esse ano eu consiga muitas.

Propostas de fora?

Ainda não. Se tivesse estaria com um sorriso de orelha a orelha.

 

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Joao Pedro

Estudante de Jornalismo na Instituição IBMR Barra, Rio de Janeiro.

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